domingo, 30 de dezembro de 2012

sábado, 29 de dezembro de 2012

Laranja




O reflexo romã da tua
pele refletia na íris do
olho, não, não, acho que
era marfim ou coisa assim;
só acho que não me encaixo
no próprio sonho que tive,
mas não me contive e sorri
pelo que vi, me parecia um
lugar de doce ilusão, onde eu
podia ser visto, e quase acreditei
que existo quando ela se deteve
por um momento à olhar fixamente
em minha direção, era só mais uma
invenção do peito, e quando dei por mim,
vestia um terno amassado, eu era um desenho
mal feito em uma folha de caderno, e na
verdade ela achava graça da minha
pequena desgraça, então despertei
do sono sentindo-me cão sem dono,
o céu estava tão bonito, de um tom
laranja, e meu vazio era parte integrante
da tarde...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

sábado, 17 de novembro de 2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

domingo, 11 de novembro de 2012

sábado, 10 de novembro de 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

sábado, 27 de outubro de 2012

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sob teu mundo, sem nada saber sobre ti...





Por sobre mim,
uma espécie de céu
sob tua cama, um cãozinho
especial, racional  e tão ao léu;
quase nada ama-se à si mesmo,
sempre à observar teus pés quando
se vai, espreguiça-se, e prepara teus
"se's" à quem mais te lisonjeia, e a
trata bem. Como uma cascata particular,
às costas teu cabelo cai, há muito, muito
tempo sem lar, sem um peito pra morar,
e sem jeito pra dizer ao menos o quanto
te olho, termino a madrugada ao relento
do teu esquecimento, aqui fora chove, me
molho, volto pra debaixo da tua cama já
quase amanhecendo, mal cochilo, e cê já
vai saindo outra vez, a visão da tua nuca
é a minha mais perfeita definição de "nunca"
 

domingo, 21 de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

sábado, 13 de outubro de 2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

sábado, 6 de outubro de 2012

sábado, 29 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sem graça















Como todo amante
fracassado que se preza,
sonha com a moça que
o despreza, joga o cabelo
pro lado em seu desdén,
um sorrisinho no canto
dos lábios, e assim vai bem!
E essa vida anda tão, sabe,
escancarada, com mais espaço
do que realmente precisa, e é
tanta gente indecisa no caminho
que ele só tende à ser mais sozinho,
ah, que é mundo demais pra alguém
tão só, oh, quanta gente só pra pouco
mundo!


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Sou outono
















De tempos em tempos
desfamiliariza-se, pois,
a simpatia de mim, como
as folhas das árvores aos
ventos de outono, o sol
esquece como eu era em
plena primavera, restam
os contornos distorcidos
do meu rosto conformado,
e o êxito em minhas tentativas
de invisibilidade, sem ninguém
ao lado, um voluntário isolamento
da cidade.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Estações individuais
















Escoriações do tempo
no peito chamadas frustrações,
e cada vez que ela mente, digo
ao espelho"Cala-te, mente!",
sob o céu da rua, a alma nua
de um coração exposto, o amor
torna à não ter rosto, e quase
que insistentemente imploro
pra ser chutado outra vez,
ah, sei lá, junto os cacos de
mim, e triste vou vagar pela
cidade, com minha incansável
ingenuidade, pois que batam com
mais força, ou em retirada, sou
feito dos materiais mais resistentes
da terra sem nenhuma pretensão
de guerra...

domingo, 2 de setembro de 2012

sábado, 1 de setembro de 2012

sábado, 25 de agosto de 2012

Vida de quarto




















Tudo o que vejo, pingos de tinta
no chão de azulejo, os desenhos
na parede, os cd's na estante,
amanhece, escurece num instante;
tênis, fiéis ouvintes meus, e papéis
sobre a velha cômoda, fragmentos de
momentos não vividos em versos de
frustrações, o dever cumprido, o término
do dia, deitar com os segredos da fria
noite vazia, e adormecer após sair do
peito algumas queixas, em alguma AM
Raul Seixas cantarola pra morte, mais
ou menos assim:" Vou te encontrar
vestida de cetim, pois em qualquer
lugar esperas só por mim".

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Rumo



















Quem vem lá, quem vem lá,
de braços dados com o alvorecer?
Eis um perdido, ao longe, no adentrar
das madrugadas, ou teria se desnorteado
nos traços onde se formaram teu rosto
na chuva? Ou seria na longa curva dos
teus lábios? A lágrima no olho, a janela
vazia, e minhas roupas úmidas, sob as
únicas testemunhas da minha solidão,
aves de verão emigrantes de mim,
deixando-me cá com esse meu inverno
constante...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Triste ser/entristecer















Com "suavidade musicada" adentram os raios de sol
naquele quarto da mais alta torre da cidade acinzentada,
cenário onde jaz meu amor imaginário, e já há anos, sem
planos sequer de qual amanhecer haverá de despertar;
dia após dia esperando que ela acorde, emano "cores sonoras"
em minhas preces de bem-querer, e acordes de valsa, afim de
ver-te bailar sobre nuvens de sonhos descalços que cruzam
o solitário céu da minha boca, quer entardeça, quer escureça,
oxalá, nunca te esqueça.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Rejeita, triste sem














Beija a noite
os seus amados,
levados à encantos
por estrelas amantes,
reluzentes em seus corpos,
e ainda assim, invisível à olhos
teus, cá com estes tristes lábios
meus que nunca alcançam a maciez
do teu rosto, nem mesmo o calor da
pele, em toda tua singular morenês,
era uma vez um perdido, que sonhou
e acordou em mais um dia de incertezas,
e não importa onde vá, onde quer que esteja,
que não eu, solitária, a noite beija...


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dormi de mau jeito!















Quero porque quero um dia
ver-te adormecer tranquila, esquecer
de como a vi naquele sonho, sentada
sobre nuvens de um pôr-do-sol, teu olhar,
um farol dando curso à solitários navegantes
sem luar, dos quais, eu, em mais uma noite
de lábios flamejantes, alma inflamada porque
não a tive, mas certo é que te vi na fuga dos
teus últimos traços gentis de ternura, quando
então paraste de me sorrir, subitamente, nem
tua imagem tinha mais, era já de manhãzinha,
e sem decoro, à essa altura acordei me acabando em choro...

sábado, 11 de agosto de 2012

Sentença














Eu não sou daqui,
não desse estado,
nem desse pijama listrado,
não sou do dia de hoje;
talvez eu pertença à
este poema intitulado
"sentença", e só exista
pra que Deus insista em
me trazer pra vida real,
e telefonemas que não recebo,
e tal, sei lá, quando menos percebo
já é o fim do dia, rabiscaram as
alegrias de mim. Quisera nunca
ter saído das entrelinhas pra me
tornar esse verso triste, uma estrofe
à menos, e ficaria implícito que aquele
olhar sincero existe, sei lá, bem que os
ventos poderiam ser amenos, e as noites
mais serenas, todos ao meu redor têm
mentido muito pra mim, inclusive eu
mesmo, mas não queria, e por isso peço
à Deus baixinho quase todo dia pra que
possa voltar à morar na segurança da minha poesia...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dor de cabeça e céu nublado










Têmpora,
temporal,
veio, foi,
"oi, àdeus",
tiveste, perdeu,
saia, cílios, seios,
uma atriz, diretriz,
direção, nau, now,
um barco à vela,
agora o mar sem ela...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Passado




















E quanto ao que queres, menino,
querias, das sobras, no mínimo,
o nada e um vazio de calçada;
foi-se a leveza do sentimento levada
pelo vento, restaria, pois, o que me feres,
um sorriso fosco, talvez, estinguiu-se
o brilho dos lábios daquele instante
paradiso, daquele fim de mês, e eis que
veio cinza, o siso no céu da tua boca sobre
meu tédio, ganhaste novas asas de borboleta,
agora aproveita e pousa em novas flores distantes
de mim, jardim desolado, passos, pessoas,
príncipes e palhaços, e quantos ainda passarão,
e haverão de deixar-me no passado...

domingo, 15 de julho de 2012

Te ver dormir
















Dorme...
vai passando a cidade, atravessa a idade
avançando os anos, e a frustração dos planos
ao longo do caminho, sozinho na imensidão
do universo, e se pareço disperso, ao meu lado
ela apenas dorme.
O vício de esperança que por dentro corrói,
a insistência de acreditar dói, pobre amigo
imaginário, vaga num passeio inocente
à procurar de lar, entre velhos dias tranquilos,
e vorazmente solitários, deveras esquecido,
o rosto muito parecido com o meu, porém
um tanto disforme, e a moça ainda dorme.
Lá fora nos observa, o céu, o sol, o dia,
concordam entre si em suas crônicas sobre
nossas melancolias, e na janela, a imagem
refletida no vidro, adormecida, preciso descer,
preciso partir, tremendo era o vazio naquele ônibus,
e tudo muda quando ela acorda, como fosse a própria
paz de espírito, olha pro lado, e me sorri, aaahhh...
quem era ela? Sei lá!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

domingo, 8 de julho de 2012

Cronista














Segundo o dito, maldito,
vagando como crianças sem
lares, fadado à meros registros
oculares, escreve sobre a flor,
mas o olfato não funciona, o fato
é que imagina o odor, sonha com
a delicadeza da pele das pétalas,
e eis a tristeza, suscetível apenas
à dor de ser castigado pelo espinho
que fere, às portas à bater, sequioso
de um dia poder sentir, ser amado
por enfim ser visto como realmente
é, a fé de insistir em não só assistir.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A real beleza do raro
















Azul pro verde, degradê,
o reflexo do céu na água,
ver-te faz-me querer ir pro
mar, o doce cheiro de um pomar
com a fragância de um roseiral
confundem-se em espiral na tua
presença, 'té mesmo na ausência,
tua distãncia aflora minha inocência,
e tua proximidade decora as paredes
internas do meu peito com saudade,
coração, o único vão da casa sem mobília,
mas bem poderia ser uma ilha em algum
ponto inalcansável do oceano, e sem planos
de um dia ser habitada, nada, nada, nada
e vazio, tão agradavelmente desértica, como
ela jamais viu, situação geográfica, em relação
à solidão? Simétrica!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Adoeceu, anoiteceu...

















Adoeceu por ela, na janela
anoiteceu no parapeito, na
visão do céu, o bálsamo para
o peito, era mais um rascunho
de pranto, de tanto que já chorou
por dentro, e por fora, sorridente,
na mente, a saia, o seio, o centro,
a moça, o triste reflexo na poça de
chuva, a curva dos lábios dela repetindo
aquele suave "não", a ilusão de vê-la
vindo em sua direção naquele entardecer
na praia, e foi quando o mar denunciou,
enfim, quem por ela adoeceu, ah, esses
céus de junho, os mais belos do ano, e
sobre tal engano...anoiteceu.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sem truques, nem planos
















O fim do dia...
um peito sem angústias,
uma vida sem astúcias,
lembro de quando deitava
e agradecia pela beleza das
pequenas coisas explícitas
nos lábios da simplicidade,
um sorriso honesto ao olhar
pela última vez o luar sobre
a cidade, e tão mais macio o
leito, o sono vinha fácil.
Sonhos conturbados tenho
tido, esquecido pela leveza,
mas hei de lembrar, quando
for dela voltar, e o infeliz "agora"
tornar-se passado, feito "antes",
mentalizarei um rio de calma,
de tranquilas águas da alma,
adormecer com a coleção das
mais amáveis imagens das últimas
24 horas, em par com a paz, monogamia,
fim do dia...

sábado, 9 de junho de 2012

Enfeite



















Um prato apenas nesse
fracasso de jantar à dois,
e mais um conto-de-fadas
barato, segue o amor escasso,
também nem te convidei, né,
e por que? Er, porque...porque
...ora, porque eu sei!
Na verdade, na verdade,
minha pobre pretensão era
de apenas um lanche, quiçá
uma chance de pegar na mão,
sou a timidez nas declarações
de um bilhete, eu sou um enfeite
do teu criado-mudo, imóvel, vendo
aquilo tudo que de tão belo trazes
no teu adormecer em todas as fases
da lua, feliz em te ver, mas eu queria,
eu quero viver! Quero não só estar vivo
pra ter a alma escoriada de tanto açoite,
e os fantasmas da desilusão cirandam
meu vazio em forma de lembranças tuas,
és uma honesta flor nua, e eu o vento frio
de um sábado à noite...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Adiar ou adiós!















Por detrás da antiga árvore
cá sentei-me sozinho, nesse dia
invernal, sou a raiz da última
rosa arrancada do teu jardim,
o cenário do dia feliz, no qual
teus olhos compõem, e não faço
parte, o carmesim do sangue nas
pétalas por conta dos espinhos, e
era eu, então o miserável contraste,
na tênue linha de cor azul perdido
na imensidão de um céu de chuva,
oh, moça, ai de mim que sou assim
tão blue! Na luta desigual, acaso
versus vãs esperanças minhas, e
continuo escrevendo versos sobre
devaneios de amor mútuo, ah, essa
tua sã natureza humana, que meu
sorriso "amarelo" nunca engana,
fiz meu leito, e toda noite deito à
sombra do teu esquecimento, jaz
ao relento, o insano poeta, baby,
quem dera poder renascer no teu
pensar, poeta insano, adiar o fim
da primavera, poeta insano, desmarcar
o costumeiro encontro marcado do meu
pobre coração com a pôrra de outro engano!

domingo, 3 de junho de 2012

O blues do Sem nome
















Sempre que me maltrato
canto alto, ó estranhos olhos
castanhos à mercê dos contratempos,
por onde se perderam à tanto tempo,
que furtivos olhares amantes desistiram
de encontrá-los como antes?
Os dias têm sido tão bonitos, porventura
o céu sobre teus sonhos tornou-se finito?
Faminto de tanto que sinto, e o que não
tenho sentido mais, ou o que pra mim
perdeu o sentido, sim, voraz é a fome,
e veraz, o desamparo, não raro fruto dessas
tais desventuras emocionais, ó miserável
coração do menino sem nome, e canto alto
sempre que me maltrato...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sou(soul)

















Quantas vezes lhe vejo
em meu querer, e nada
proponho, sequer pergunto
pra onde vais, sou um sonho,
me acostumei à ser deixado
pra trás, provoco sensações
enquanto durmo, sumo quando
acordo, uma fuga pelos mares
de melancolia no fundo dos teus
olhos, navegando em acordes de
melodias tristes, e desafino, me
chamo desatino, uma fábula que
existe, e em nada insiste, na confusão
do salgado com o amargo sou tuas
lágrimas xícara de café, e lá se vai
a fé; sou o desespero de alegria na
tua mais alta gargalhada, sou a parte
do teu passado onde amavas de modo
impensado, sou teu descontrole, vivo
nas folhas amassadas dos teus rascunhos,
sou tua parcela de artista falido, o sangue
em teus punhos, no ódio descarregado no
espelho, sou o silêncio de um entardecer
vermelho, numa transição pro azul, sou
teu blues, sou teu coração partido...

domingo, 20 de maio de 2012

Todo sentimento do mundo(em questão de segundos)















O sabor do som que o paladar da alma
não rejeita, como um misto de todas as
músicas que ela adora, e como fosse misturar
todas as cores do dia lá fora, numa mesma íris,
em uma perfeita tonalidade para os olhos, assim
ele veio...receio...veio, e veio como enganador,
veio transfigurado de amor; acreditava ser o fim
de uma espera vã, eram quase três da manhã, de
uma madrugada enluarada, e ela cantarolava, e ela
tagarelava, a amiga parede lhe curtia efusiva, servia-lhe
de diário, e confidente, pareciam férias para a fada-do-dente,
dava as costas pra estrela cadente, arquitetando planos,
ora vem, vida voa, um ano sem, lamentos, esquecimentos,
e ela chora à toa outra vez, o amargo do quarto cinza, o
som do vazio estridentemente frio, madrugada, quinze pras três...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Ego de palhaço
















Olhos marejantes,
torta flamejante na cara,
quando bate o sino, sou um
palhaço com cara de menino,
e estilhaços de coração na mão,
há vestígios de primavera sob a
mesa da sala, e as crateras de
incertezas em meu percurso nem
se fala, talvez eu corte os pulsos
com um desses cacos de mim, o
lado mais escuro da lua é ali no fim da rua;
me ponho à indagar em plena praça
pública que graça há em ter o rosto
pintado de sonho, se ninguém há de
vir, ou ouvir meus apelos em ver-me
livre dessa máscara feita de pesadelo,
meu mundo é um circo de aberração,
com lamaçal, e arco-íris de ilusão embaixo
da tenda, sei lá, quem sabe eu não viro lenda,
o cúmulo de uma flor que nasce no lugar do
túmulo, cresce, e sobrevive na fenda de uma
rocha, pétalas, pálpebras, adormece, desabrocha...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Desafortunadamente amante
















Claridade...
parado ao teu portão,
eia lá novamente aquele
mancebo com um pente
no bolso, encostado em
seu veículo semi-novo,
lhe trouxe caras flores
artificiais, ali da esquina
deu pra ver a malícia do
sorriso por trás do buquê.
Brilha o sol, estou só,
penso, mas não sei se
me atrevo à fazer-te uma
visita, por não ter nada de
mais adequado que me vista,
a não ser aquele antigo terno
de remendos recentes, e pra
aumentar o embaraço, de
retalhos de cores diferentes.
Eu tenho uma bicicleta toda
pintada de preto, e um café
amargo mais escuro ainda
pra desjejum, sou mais um
com fome mesmo é de amor,
queria poder levar-te alguns
bilhetinhos com versos singelos,
uma flor natural, roubada de
algum jardim no caminho que
lhe caia bem no cabelo, mas
a primeira nuvem negra deslizou
em frente à minha janela, quando
abotoava o último botão do velho
paletó, dou por mim que perdi
um pé do par do sapato, o pneu
da bicicleta murchou, e lá se foi
meu verão, o céu chorou, tempestuoso,
escuridão...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"Eme" de música, "Bê" de Brasil, "Pê" de puta que pariu!





 
Um sonoro "yes" para o jazz de Jobim,
feliz porque Elis mora em mim, o bem
que Jorge Ben me faz, xô, satanás, que
estou à beira do portão de embarque
pro reino da alegria, "sorria, você
está ouvindo Chico Buarque";
"Acabou, chorare" faz de mim rapaz
emocional, e é certo que me acabaria
de chorar se pudesse ter aquele long
play do Tim Maia Racional,  quem
dera o autointitulado Os Mutantes,
o primeiro disco de Baden, "À vontade"
deixa qualquer cristão com muita
vontade de samba, e sem deixar pra
amanhã, como um bom vício, "Tarde
em Itapoã" de Toquinho e Vinícius,
Caetano o ano todo, Gil pra quem
ainda não ouviu, ranzinza João
Gilberto enfeita dias cinzas com
esse monte de bossa, pra deixar o
mar entrar no peito aberto, ah, mar,
e se for de amar, ou pros calos de amor,
Roberto carlos, POR FAVOR, 'té porque
"As canções que você fez pra mim" não
vieram de você, muito menos feitas pra
mim, mas, ei, ei, menina, sente aqui
comigo, sente, e sinta aqui o formidável
"Clube da Esquina", que enquanto a gente
ouve, uma estranha linda coloração no
céu, misto dos mil tons de Milton, e
não me recrimine se eu chorar quando
tocar alguma coisa de Flávio Venturini,
"baby, você precisa saber de mim", vai
com a Gal que dá legal, ou então que
impere a doce teoria de Bethânia, na
"arte de sorrir cada vez que o mundo
diz "não"", a tristeza quase que não me
abandona mais, mas, em prol de tanto
azul lá fora, fauna e flora, gratidão
inteligível, as vogais em um sorriso
cru, a, e, i, o, u...TOCA RAUL!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Retiro pessoal


Vento em forma de brisa leve à vagar,
fui ali na praia orar; vejo crianças
salpicadas de mar, vejo corpos em
tentação, os ambulantes, o sol da
tarde docemente doura a barriga
da gestante, a onda carrega a grande
bola colorida pra longe, e os pequenos,
sorrindo, a deixaram de lado, inventando
algo novo pra brincar, fui ali na praia orar.
O pássaro de vôo rasante, como quisesse
sentir o cheiro salgado da água, o frescor
que vence o calor das mágoas ali deixadas,
e como todas essas pessoas deitadas, me
posso encontrar ao deixar-me perder no
azul à perder de vista, tanta coisa ruim que
esqueço, e mesmo nas limitações do meu
campo de visão, enriqueço, nesse exato
momento enxergo paz pra onde olhar, num
saudável esquecimento, tudo porque saí de
casa pra ir ali na praia orar...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Rosto na vitrine




 Tenho andado só pelo espaço,
o mundo é uma vitrine de vidro
resistente, e eu aqui fora, em
meio ao fracasso de não ter
conseguido entrar novamente,
parafraseio Lennon na calçada
do universo, "imagine" nunca
mais ter o coração partido em
meus versos, mais recheio em
tortas de maçã e menos receio
sobre o amanhã, e os dias vão
amanhecendo, eu sempre esquecendo
de mim, exemplo de como não ser,
abro os olhos, falta bem pouco pra
escurecer, uma vez mais desperto
menos esperto do transe, outro ano
perdido sem ter aprendido à amar;
na mente os resquícios de romances
desfeitos, aviso aos imperfeitos:
Lá vem de novo, ilusão! Com jeito
simplório, canto, bato palma sob um
céu meio contraditório, mas não
consigo ter calma, ela...ela sorriu
pra mim! Sonho, pego na mão, e vôo
alto, acordo só, em queda livre, a
triste visão do mar em declive, e
antes de me espatifar no chão da
frustração ainda te chamo, e seu
ninguém me pode ouvir aqui dentro,
quando penso:"EU NÃO ME AMO!"

segunda-feira, 16 de abril de 2012

E eis um indigente!




















O sem valor, alguns o chamam
moribundo, dorme o dia quase
todo às portas trancadas de vários
corações do mundo, morreu pra si
há alguns anos atrás, e se um dia
teve mãe, e 'té mesmo vivente, nem
lembra mais; distúrbios no céu da
mente, em meio ao caos de clarões
de relampejar o fazem chorar, o
maldito costume de escuridões, e
sem mais previsões do sol raiar,
traços tortos de memória do indivíduo
sem estória, monossílabos, desdéns e
rejeição, por conta das coisas feitas
pelo coração, para cada a devida mera
educação, e sequer pode tocar as mãos
dela, pintou todo o globo ocular de preto,
atirando todos os seus versos pela janela
da alma no breu do universo, hoje em dia
põe-se à aprender à morrer com calma.

sábado, 14 de abril de 2012

Desaparecido cada vez menos parecido












Há um menino no mundo
com uma nova feição à cada
aparição, desaparece quando
seu corpo desfalece de tristeza,
jaz sob a mesa, aos pés do acaso,
no banquete dos céus, pra não
ser alcançado pelo sol;
lá embaixo existe uma passagem
secreta que dará em uma gruta
bem no meio do oceano, salvo de
enganos, e disposto à dormir pra
sempre, acorda à contra-gosto
pra tornar à viver, ninguém o
pode ver, onde a luz não alcança,
e a natureza descansa os olhos,
tendo-o longe da vista, talvez até
nem insista mais no amor, talvez
preste um grande favor ao dia,
tomando a porção da invisibilidade,
tentar se conformar em ser só mais
uma sombra na escuridão da cidade,
anda cansado de tanto sincronismo
barato, de viver à deparar-se em
cada esquina com aquela moça
chamada mediocridade, de olhar
sempre alerta, e o menino do mundo
nunca chega na hora certa...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Paz de devanear















Tartaruguinha à caminho do mar,
a calma diária, a paz da imobilidade
voluntária em sua casa móvel, de vagarosas
patinhas contentes, e bem melhor que muita
gente; em outra extremidade da praia, pegadas
graciosas na areia morna, morena saindo d'água,
o vento aperreia os cabelos negros dela, sonha
em deixar mágoas à deriva, e suas inquietações
de janela, o azul do céu contrasta com o estado
"blue" da moça que se afasta do mundo, enquanto
lava louça, se esconde com a alma longe, anseia
por um "farelinho" que seja de primavera, talvez
até dançar nua em alguma cratera da lua, mas
com o peito cheio de imaginação, vôou até o
oceano, voltou com as asas encharcadas de
planos, serenidades e verão...noite...tudo que
ela deseja agora é a total ausência de luz, mas
nem bem trevas, é só para o descanso dos olhos,
quando o pobre amante chega manso, e a beija
com a mesma inocência que a cobre, a pele
arrepia sempre que cantarola "João e Maria"
bem baixinho ao ouvido dela, e segue a prece:
"Dorme, vida, que eu esqueço meu coração
partido, choveu, meu amor adormeceu."

*João e Maria- Chico Buarque

sábado, 7 de abril de 2012

Vontade
















Enche que nem balão, coração,
e eu nem sei por que ainda teimo
em andar por aí com o peito
desnudo, posto que aonde quer
que eu vá, hei de encontrar pessoas
com objetos pontiagudos à mão, e
o que me resta, há um pessoalzinho
aí que detesta, e mesmo assim vive
sem proteção; por Deus, como eu
não o queria como mero enfeite,
à mercê da dor, entre os pregos,
agulhas e alfinetes desse mundão
de tanto desamor, mas, ainda assim
enche que nem balão, coração!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Frô e preda"















Entre as rochas, uma flor...
nasceu, cresceu quase sufocada,
quase nunca regada, as poucas
gotas de quando chovia, amor
que escorria, mas o céu insistentemente
a animava, juntamente com o sol,
dizendo:"Vem com a gente numa
fotografia, sorria!"
Sou uma pedra...
das poucas que não a maltratou,
muito pelo contrário, brotou de
uma fenda em mim, assim como
enfeitaste meu pobre cinza, ainda
ontem os rigores do tempo sobre
minha pele nada macia, mas é
fato, de suaves à ventos tempestuosos,
maltratos; certo dia, alguma ave
de verão lançou sobre nós o pozinho
da simplicidade, fez-se vida, nos
tornamos gente da cidade, e era
eu, então, uma criança sem rumo,
sozinho em alguma calçada, mas
eis que a querida morena enluarada
deu-me a mão, cabelos cor de noite,
de irresisíveis maçãs do rosto, que
tive que pedir licença, e desculpas,
mordi com ternura, tua doçura
tem a medida certa de todas as
atenções que eu sempre quis, e se
não muito me atrevo, ouso dizer,
aliás, escrevo...feliz em te ter!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Tênue




















Chão da madrugada,
foi-se o menino feito de
cristal fino, espatifou-se
em estilhaços, caído do
alto da estátua feita
de aço, a bela moça ali
parada sem dizer nada
o deixou cair, e ser soterrado
pelos escombros da casa do
desamor, amanhece, e o
mundo esquece das feições
do rapaz que antes tinha pele,
tênue de tantas rejeições, a fé
enfraquecida pelo dia que fere,
o menino feito de cristal fino..

sábado, 24 de março de 2012

Esboço



















Uma pena tua beleza,
faz-te por demais segura,
à ponto de sentir-se um
tanto tonto, a frieza dos
teus olhares lançados à
lados opostos onde caí,
saí pra ver o mar, mas
mesmo assim foste tatuada
sob a pele do meu peito,
sento, e te escrevo meio
sem jeito sobre o que sinto,
não me atrevo tentar te
mostrar, minto pro sol
fraco, que nem estamos tão
distantes assim, mas acabo
em desabafos, do quão
insignificante sou ante
a poesia dos teus traços,
e o inferno que é não lhe
ter nos braços, meus olhos
trêmulos, meus pés vacilantes
em desequilíbrio, o pêndulo
do dia denuncia toda minha
certeza, e cá comigo, tanto
penso em tudo que queria te
dizer, e termino por rabiscar
na areia da praia: " Uma pena
tua beleza..."

terça-feira, 20 de março de 2012

Melancovia





















Se não for de voar, que caiamos juntos,
mas que assim seja, juntos; minha oração
no findar do dia é pelos amantes frustrados,
mais ainda por céus tão estrelados, de noites
tão quentes, e ex-amores recentes, que bem
poderiam estar aproveitando o frescor do
relento, ao invés de estar deitado em meio
ao caos dos bilhetinhos ao vento, relendo
pela trigésima vez a "carta de dispensa",
dando baixa à crença de melhores dias
vindouros, o mais novo incrédulo de versos
amargurados, o que d'antes foram por demais
"açucarados", e disso é feito o poeta, um coração
como mera avenida de acesso, onde tantas moças
passaram sem ali parar, e sem saber ao certo se
ela um dia estará naquela via deserta.

sábado, 17 de março de 2012

Asas, pra que te quero, asas!















Todo dia estranhamente sonho
que o Homem-Pássaro, me
empresta suas asas após às
11, hora essa em que costumo
sair para o meu vôo noturno,
e sobrevôo toda a cidade, sobre
as luzes, bem próximo às nuvens,
tô indo te visitar, torcendo pra
que tenhas adormecido com a
janela entreaberta, dei sorte,
e lá embaixo, tua rua já deserta;
Quero sentar ao lado da tua cama,
quero passear nas curvas do teu
rosto com meu indicador, lhe conto
mil segredos ao ouvido, para que
acordes sem medo do meu amor,
lindo é ver-te dormir sorrindo,
aproveito, e arrumo a bagunça
da tua cômoda, mas no silêncio
de um protetor que não te incomoda,
e movendo-me na ponta dos pés, velo
teu sono, deitando pertinho, e bem
quietinho, são duas da manhã, as
asas que devolvo já nem preciso mais,
posto que te envolvo em meu peito,
armo um cama com docel, e tudo,
no fundo dos olhos, pra menina
que jaz em mim com o céu de si,
tua presença me vem como crença
e recompensa, vou deitar pensando em ti...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Um gole de sol
















Radiante, o sol de quase
fim de tarde, ô quentura,
o Domingo ainda arde
em ternuras, e o mar
mais fresco, peco em
não estar lá, perco o
olhar na distância da
minha janela pra lá,
bem que poderia ter
sido um pouco mais
esperto na infância,
já que moro há tanto
tempo tão perto da
praia, tomara que
caia logo a noite, que
me jogo daqui pra lua
à pé, em ritmo de brisa,
leve, e vagarosamente,
"avisa lá que eu vou
chegar mais tarde, oh, yeah!"

sábado, 3 de março de 2012

Blues da chuva




















Vento vaga, e sobre o cinza,
o céu divaga, pois aquela moça
não precisa de um menino com
farelo de biscoito na camisa, e
ele põe-se à "nublar", perdendo
a cor, mendiga atenção às portas
do envelhecimento, vindo de vários
esquecimentos, em um branco
quase incolor. Vai caindo a chuva,
e o dia insensível o torna visível
por instantes, apenas, um rosto
inexpressivo forma-se em indagação,
"Quando haverão de cessar as
curvas de lábios estranhos, e
estradas tristes sem tamanho?",
pergunta à própria sombra, e
sobre o cinza, o céu divaga,
o blues do lamento dos pingos
no chão, enquanto vaga o vento...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cantinho de monólogos
















Quase sempre vejo gente
contente, aonde vou, sei,
não sou, só posso estar
feliz por ainda ter meus
dentes, ah, pra quando
puder sorrir, né, quem
diria que um dia meus
banhos de chuva tornariam-
se disfarces pras minhas
lágrimas, invisíveis prantos,
aparentar estar em paz,
para que ninguém perceba
que eu nunca mais tive
um par; vinte anos atrás
eu jamais imaginaria que
só me restariam o vento,
ou as paredes como ouvintes,
ninguém pra ver tevê junto,
e tanto assunto, de que valem
tantos cômodos numa casa
de monólogos incômodos,
monótonos, danos de um
coração sem dono....

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Na paz do meu vazio

















O que tu és, ou foste
pra mim?
Teu nome é frustração,
ontem era qualquer coisa
doce, seja como for, fosse
o que fosse, me trouxe dores
em papel celofane, a utopia
que me ames, esqueci, que
amasse um dia, ah, sei lá,
que ao menos me odiasse
com vontade, prefiro isso
à mediocridade dos teus
sorrisos sem gosto, forçados,
pior, enforcados!
Declaro a forca pras minhas
angústias de faltas de astúcias,
gilhotina decretada à minha
ilusão, na esperança de ver
uma quebra de rotina, a
redenção da solidão de não
se estar rendido à quem me
tinhas por sobejo, ao mar
no qual a beleza é irrelevante
pra se estar, um beijo.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Tuas inverdades



















Náuseas de ceticismos,
o contraste que há no
brilho do teu cabelo
com esse sinismo dos
teus lábios secos, quando
dissimulas; a primeira
vez que eu a vi, parecia
toda feita de cristais,
perdida numa imensa
floresta de mármore,
tão frágil, tão fácil
na beleza da tua carência,
a ciência da vulnerabilidade
sempre me enamora, e agora
me deparo com tua estranha
habilidade de não ser você,
é, talvez essa até seja você,
mesmo, e aquele rosto que
resplandecia não passara
de uma máscara que refletia
a luz da lua, acho que mesmo
estando despida, nunca hei
de ver-te nua, em verdade,
porque, na verdade, sonhei
com aquilo que imaginava ser
você, foi ver pra crer, e então
pensar no caminho de volta,
olhei em volta, e me peguei
falando sozinho...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Desníveis do mundo


















Já que não há
pra quem ligar,
o mar é bem mais
fácil, não tem desculpas,
ou inverdades pra ouvir,
posso ir; enquanto isso,
em alguma parte da
cidade, ela se debruça
na janela, procura
refúgio na lua, talvez
até já tenha me visto
passar na rua, mas
como outro qualquer
lá embaixo, e eu não
acho graça nesses tais
desencontros, ou no
vazio que há na distância
das forças, sinceramente
eu nunca vou saber por que
a vida é assim, um belo par
que não se faz, a lua em ti,
o mar em mim...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Eu não me convenço!



















Ela sorri,
e tem a convicção
de nunca vir ao
meu mundo inóspito,
nem que a passeio,
opta por lugares de
sonhos estabelecidos
à essas terras no meio
do nada, de inférteis
solos esquecidos,
fundamentos da
morada de pensamentos
enfermos, de ermos
terrenos incertos, e sem
outras casas por perto.
Chove bem forte, e ela
mal se comove com a
minha falta de sorte,
quando entediada, torna
à abrir sua caixinha
repleta de simpatias
endereçadas à si,
lembranças de olhares,
canduras de beijos,
pomares de desejos,
e não pode nascer uma
flor que seja, em mim,
anos que não consigo
chorar, acho que a
última carta que escrevi
deve estar semi-amarela,
despedaço, desmorono,
e ela...sorri.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Sem previsões



















A translúcida luz da manhã
sob a porta, córregos de folhas
mortas escorrem de olhos cada
vez mais sófregos, o brilho
opaco ocasionado pelas cinzas
da quarta-feira, uma árvore
de galhos secos à beira da vida,
o término do carnaval no quintal
do meu mundo, o céu incolor sobre
o poeta indolor, as dores da falta
sofridas por segundo, a querida
imaginária, e seus vícios de solidão,
à espera de amores fictícios futuros,
sim, ali sou eu, uma espécie de Romeu
retraído, caído do outro lado do muro...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pelo poder da visibilidade
















Colibri, abri as janelas
da alma, acordei com uma
estranha calma de estar
sem muita vontade de viver,
hoje cê nem veio me ver, por
conta da chuva, acho, mas lá
pelas dez parou de chover, bem,
pelo menos lá fora porque não
há hora certa pro mal tempo
aqui dentro, nesse meu inverno
interminável, o homem invisível
não deveria ser invencível, ou
impermeável? Bem que eu poderia
inventar uma destinatária, daquelas
mais solitárias, só pela doce sensação
de ter uma carta de amor recebida
sem desdém, imaginar reações de
puro lisonjeio, seja como for, hoje
descobri que aquele beija-flor que
não veio não era meu, na verdade,
tão, tão imensa cidade, e eu sequer
tenho um colibri...

sábado, 21 de janeiro de 2012

Dorme





















Pra se estar fora do alcance
da incerteza, dos maus acasos,
e tanto descaso com a singeleza
dos meus versos, peço à Deus,
e me despeço do mundo, deito,
no que imagino ser uma cama
de nuvens, céu, o mais longínquo
lugar, onde ninguém, sequer,
conseguiria me imaginar,
jazendo sobre o caos da forte
chuva da madrugada, três e
meia, sonho com um chapéu
novo, por conta do cabelo que
já rareia, que paz eu sinto,
vendo os aviões daqui, só
acordo pra morrer, envelheço
até dormir...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Quanto falta pro chão?















Saudade,
olhos cheios, peito sem,
a idade avança, e a pele
do indicador nunca
alcança a palma da tua
mão, meu bem, quando
caio ao longo dos anos,
saio da tua vista, sumo
da tua lista, e dos teus
planos, meses à décadas
de queda-livre, saudade,
olhos cheios do que nunca
tive...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Águas de descanso
















Além da pele, apelos,
aqui jaz uma cidade
sem paz, mas em resposta,
corrégos de tranquilidade
que o fim do dia trás me
fazem descansar quando
a luz se apaga, e já não há
inquietações quando a calidez
da noite me afaga as pálpebras,
fico à sorrir de sua linda palidez
em minha sonolência, simplicidade
maior não existe do que a inocência,
faz sumir de mim o pecado da soberba,
me faz lembrar de ser grato por cair,
levantar e novamente sorrir, refleti no
último copo d'água, antes de dormir...