domingo, 29 de maio de 2016

Gatilho




À vagar... outra tarde pela praia
de estranhos rostos, às vezes as
vozes de conversas alheias me tiram
a calma ao ouvi-las involuntariamente
e eu só queria isolar  na mente o áudio
do som do mar e do vento que é pra
ver se invento um melhor lugar onde
não me sinta tão deslocado no mundo,
as guerras internas nunca cessam e o
desespero da cidade por felicidade não
inspira calma, o silêncio rareia pela areia,
a angústia volta à me maltratar, me vêm à
memória algumas tantas mágoas passadas,
daqui eu vejo trilhos inativos, o trem nunca
mais vem, estou pensando nela e prestes à
pressionar o gatilho, uma pistola d'água, eu
vou regar, eu vou alegrar minhas plantinhas
na janela...


terça-feira, 24 de maio de 2016

Alguém para escrever(Minha nada efêmera)



Ah, desesperançoso mundo perverso,
em meio à tantas malícias e milícias te
escrevo versos, anos após e aqueles velhos
receios de volta na fila do correio, uma carta
em minhas mãos trêmulas endereçada à minha
nada efêmera amante e o desejo ardente de antes,
à saber, que nunca partas! O coração desnudo à
prova de tudo menos de mim mesmo, inimigo íntimo
trazendo-me à memória todo tipo de inquietações, mas
em minhas orações ao findar do dia as súplicas de paz
interior estão sempre inclusas, ela é tão reclusa na sua
vida doida, deixando meu peito dorido de saudade e não
haveria como amá-la menos, sim, eu tenho fé em vindouros
dias amenos e beijos duradouros, olhos de cobiça à cada reluzir
de ouro, eles me chamam "miserável", mas pra mim admirável
é a luz do olhar dela que me faz querer correr desesperadamente
para o mar....

terça-feira, 17 de maio de 2016

Os derrotados um dia contarão...



Segunda de manhã, dia frio, "Tarde em Itapoã" na mente
e assobio, sorrisos prontos pelas ruas e jardins à espera de
prantos do céu para assim sorrir tão, tão "verdemente";
eu sou aquilo que mais detesto, alguns apenas me chamam
"idiota", eu sou a derrota, estou em olhares cansados no teto,
em pensamentos que assombram na cama dos trapaceados,
estou nas necessidades pelos cantos cinzas mais tristes da cidade,
eu sou o café esfriando, eu sou a falta de fé, estou no desespero dos
angustiados de se ver livre de algum desertor do amor, eu sou o amanhecer
após o "não" de ontem, sim, um dia serei só um contratempo esquecido no
passado de alguém, a simplicidade honesta gentilmente entrará pela fresta
da porta do lar desfeito daquele peito abandonado e fará de lá um verdadeiro
lar, por muitas vezes eu fui pra muita gente um nada mas a derrota será derrotada
e as dores divididas quando me fizerem esquecer plenamente o quanto fui esquecido
nessa droga de vida...

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Sonho da rosa murcha...



Correndo livremente entre os canteiros,
sorria e acenava pro carteiro, ah, aquele
aroma extraordinário me tirou do coma,
um odor bom de alma ímpar em simplicidade
reviveu minha atividade emocional no peito
semicerrado, nada me parecia errado; aquela
rosa virou anjo e caminhou comigo por uns
bons minutos, pareciam anos, nós dois de mãos
dadas à beira de um mar mentolado, um céu de
chumbo sobre nós e nós à sós naquela praia deserta,
tua sobrancelha arqueada, esperta, e meu rosto resplandecia
dourado pela suave presença dela, os passos delicados da
morena bailando pela areia amarela, só de olhar me sentia
salvo e seguro, subitamente era eu DiCaprio pelos campos
de papoula e tudo ia ficando mais escuro, podia agora sentir
nos pulsos os picos da maldita seringa, aos poucos ia voltando
à si e já não era mais um afortunado amante, apenas um viciado
vencido, aquela preta anjo havia deixado de ser minha heroína
e havia se petrificado, não havia mais cor, nem cheiro, minha rosa
menina singular havia murchado...

terça-feira, 10 de maio de 2016

Doces planos fracassados



Em meu truque diário para que o sono venha,
imaginariamente agora te pego pela mão todas
as noites e a levo para procurar a nuvem mais
macia pra gente dormir, desculpa, mas te inseri
também na melhor hora do meu bem estar, baby,
como eu gostaria que livremente quisesses estar perto,
sim, meus olhos estão fechados e meu peito tão aberto
à espera que adentres, admito com bastante embaraço
que queria interferir no teu livre arbítrio e te forçar à
me amar, ridículo e miserável filho da puta à tal ponto,
tão menor, tão minúsculo, tanta vontade de te ter no colo,
choro na escuridão do quarto abandonado chamado coração
imaginando meus dedos mergulhando no teu cabelo com um
zelo que talvez nunca podes ter, ficar ali te olhando como algo
raro até você adormecer, pouco importa se eu esquecer de mim
pra te fazer maior, queria te ninar com uma canção sussurrada
até não lembrar mais do quanto vaguei só pela vida, eu sei, são
planos solitários de mais um romântico otário, tentar ver o lado
dela, ser adulto e entender que não se força ninguém à te querer,
mas porra, diz isso pra essa incessante vontade de cuidar que vai
mutilando minha alma com constantes faltas de calma, pareço tranquilo,
mas no sigilo do meu interior berro aos céus que ao menos desta vez seja
do meu jeito, a noite dividida em dois quadros, de um lado ela sorri indiferente
à minha existência com excessos de atenção, do outro ali sou eu na companhia
da frustração...

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Praticando a invisibilidade




Eu na vida, uma criança de colo
esquecida num shopping, tive a
leve impressão que alguém havia
me visto, e após a adolescência a
inocência não se foi como previsto;
termino sem, mesmo morrendo um
pouco a cada dia, perdido na confusão
de tanta merda que eu penso, desaparecendo
com a certeza cada vez mais nítida que não
pertenço à lugar nenhum, que pena, apenas
comum, adentrando tantas casas no decorrer
dos anos e não encontro um lar, de repente
ninguém me parece familiar, eu sou aquele
personagem em uma letra qualquer do Radiohead,
algo no caminho me impede de ter reais aproximações
e comparações são inevitáveis, aqueles sorrisos não
são para mim, sorte e abraços alheios desde os tempos
de recreios da escola, coletando "esmolas" de amor,
a ironia no senso de humor do sol chega à ser cortante,
abrilhanta gente radiante, delata a solidão de inconstantes
como eu, olho ao redor, todos parecem falar de um jeito
estranho, tudo parece cada vez mais incompreensível,
um vazio sem tamanho, um holofote sobre um sensível
invisível...

terça-feira, 3 de maio de 2016

Quando a chuva me colorirá?





Vazia, noite vazia, é, talvez a solidão
realmente me adore, algumas pessoas
a chuva colore ao passo que outras ela
apenas esvazia, das cinzas do jardim incendiado
do hospício em mim eu vejo amores em  desperdício,
eles trocam fortunas por esmolas em absolutas faltas
de reciprocidade, estou farto dessa cidade, vivo puto,
frustrado e deveras entediado de tanta procura, o meu
coração a cada dia mais se enamora pela loucura honesta
à lucidez dos fingidos que a tantos maltrata, estou cansado
de ser mero ouvinte e espectador de sonhos alheios, quero,
preciso desesperadamente viver essa merda, que de perdas
bem entendo, ando só há tanto, mas tanto tempo e não me rendo,
continuo sendo eu, nem mais, talvez bem menos, a confusão das
vozes ecoando em minha mente problemática dizendo o quanto eu
sou "legal", não me leve à mal, mas nesse instante essa droga de adjetivo
só me deixa down, uma vez, uma vez que seja na vida eu queria ser importante...

domingo, 1 de maio de 2016

Eu não sou super do bem, eu só me fodo pra não ser mal...





E sobre aqueles sorrisos que fazem doer
por estar voltados pra qualquer direção
que não aquela que tu se encontra, cara
..nada contra...é tudo que se pode dizer,
inveja e ciúme nos diminuem ainda mais,
e tudo que se pode fazer é combater tais
pensamentos  e a mesquinhez desses fétidos
sentimentos, aceitar a sorte que ainda não veio
sem desejar que o outro se foda, é fácil isso?
Ah, bom Deus, perdoa pelo palavrão, mas puta
que pariu que não, é nada, é porra, a gente quer
é o nosso bem, e se eu me vir não sendo assim
como a grande maioria, ah, vá, quem sabe um dia...