terça-feira, 30 de maio de 2017

Sorrir, cair em si e sumir...







Clareia ou ao menos clareava, subitamente 
a candura dos teus olhos deixou de ser a candeia 
que me guiava e fez das minhas noites mais escuras 
do que o costume, foi assim num dia frio que deixaste 
à mostra o quanto desgosta das coisas mais doces vindas 
de mim, tão frágil e fácil que não te atraio, vez por outra 
caio no teu esquecimento a cada esquina que dobras, segue 
a velha canção, "O céu que te cobre não cobra a luz da manhã",
no silêncio, lembrei da letra e me pus a sorrir infeliz, pensando 
seriamente em pintar o nariz e deixar de existir pra ti, mistérios 
tais do universo, anseia por amor em seu caminho, mas despreza 
meus versos...

domingo, 28 de maio de 2017

Olhares diferentes, céus singulares






Olhos, gentis olhos profundos em alguma parte
do mundo, há um jardim no fundo daquele olhar 
especial, cujas flores não estão lá apenas para ser
apreciadas visualmente, mas cheiradas, sentidas, 
como tem de ser  a vida, talvez uma distância, talvez
uma imensidão entre nós, talvez um vazio simultâneo
em nosso pobre sorrir momentâneo e vem aquela saudade
da infância enquanto ao mesmo tempo voltamos à velha
solidão, ah, gentis olhos profundos, quantos dias lindos
ensolarados e estrelados céus de noites de verão serão necessários
até que cruze oceanos e anos para enfim encontrar esses ilusórios 
olhos meus?!?

sábado, 27 de maio de 2017

Perdoa o sonhador(O Doug que há em nós)







Sempre às voltas com a lanchonete como ponto zero, hambúrgueres, fritas e ansiedade de quanto quero, de quanto quero, enquanto ela se diverte, eu espero; Devaneio-me herói, intrépido, não-tímido, e sem mais olhos úmidos, as mil e uma situações em que suas mãos me vêm tão mais reais, segurando as minhas, sempre que salva, a deliciosa sensação de vários finais felizes alternativos, calma no lugar de perigo, algema transformada em buquê de flores, onde fores, quisera estar sempre junto, estamos sem assunto, não importa, eis a evidência de que havemos de ser um par, mesmo no silêncio, o conforto da cândida proximidade tua, almas nuas, um incêndio na cidade, carros em colisão, queda de material naquela construção, e a gente só quer ouvir nossos discos favoritos bem juntinho, contar as horas, enfrentar os riscos e demoras até o esperado denominador comum:carinho.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Não importa o que deixaste pra trás, mas não sabe o que tens pela frente...







Hoje eu sou teu pessimismo, tua feiura, 
sou toda tua doçura se esvaindo, teu lindo  
desapego às coisas materiais que faz de ti 
desinteressante aos olhos do mundo materialista, 
sou aquele céu cinza de uma manhã sem glória, 
aquela canção insistente na tua memória, um coração  
desabrigado após um reles"Obrigado", sou o surto em resposta 
à todas as propostas de amor, sou todo o sarcasmo que há no marasmo, 
hoje eu sou apenas amargor e nada mais, o que não sabes é que amanhã 
eu posso ser a graça de aprender a deixar coisas e pessoas dispensáveis 
para trás, perdoa o rancor, mas é que a tal tristeza me tirou o sono e fez 
do meu peito um lar de abandono, quem se foi, deixou a casa descuidada, 
desprotegida, achou que eu ficaria bem e foi lá curtir sua alegria fingida, 
saiu sem ver os cortes deixados na alma já maltratada, quem me deixou, 
me deixou sem nada...

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Após toda negatividade, o tão sonhado esquecimento!






Ó, estranhas portas que bati pela cidade 
nas falsas esperanças das minhas "perambulanças", 
pouco importa a intensidade da intenção, nem a força 
do grito, no final estava escrito "Foda-se o coração!", 
leve, sim, estava prestes à dizer "leve-me", mas é que até 
então só me cabe o estranho, escrota realidade, eu nunca ganho, 
da chuva da noite passada uma flor nasceu, dias de espera e receio, 
agora eu só odeio aquele sorriso idiota de quem quer desesperadamente 
passar uma imagem de quem venceu...

domingo, 21 de maio de 2017

E eis que asserenei...






Desértica estação de trem, domingo, triste sem, 
uma coisa eu sei, mesmo que acusem  "demência", 
com veemência prometo ao mar, amar-te-ei, olha lá 
aquele perdido com o coração bem parecido com marte, 
inóspito e silencioso como a tarde no quarto todo, todo branco,  
vazio e encarando o teto, tanto tempo sem tato, vozes na mente  
que insistentemente convidavam a desistir, mas maior era a vontade  
de existir; ontem eu ouvi palavras amargas de um amigo, vibes suicidas 
não tinha como não encher o peito de felicidade por vê-lo ali com vida, 
lúcido após o temporal interior, por alguns instantes pensei na falta de amor 
no meu caminho, do quanto andei miseravelmente puto, mas então lembrei 
de enfermos e gente de luto, também pensei em super precavidos com a débil 
certeza no amanhã e sorri à luz da manhã, as ondas acarinhando os meus pés 
na areia da praia, e daí se por muitos havia sido esquecido por falta de posses, 
e daí se eu era apenas um suburbano fodido, e assim terminei minha oração, 
sereno porque tudo que eu tinha era essa porra de coração!

sábado, 20 de maio de 2017

Foi um dia qualquer...





Desprezível, dispensável pseudo poeta 
caminhando na direção certa para o mais profundo abismo 
de despojos de toda a rejeição do mundo, a forte impressão 
que não lembravam sequer do som da sua voz, olhou ao redor 
e só viu maldade, sentindo a indiferença do dia veloz, mas todavia 
deixando-se perder nas paisagens noturnas da arquitetura da cidade, 
os mesmos consolos de um tolo, era uma vez  um menino, sensível e quase 
invisível, um garoto, mas não como o mito de Chaplin, nem tão bonito, corpo 
leve, alma pesada, era uma vez um anônimo com o peito vazio de tanto amor 
platônico, sumiu na chuva de alguma madrugada, acabou-se o que nunca
souberam que era doce, nunca foi de vencer, uma vez que fosse, zip, zero, nada!

terça-feira, 16 de maio de 2017

Tranquilidade







O orvalho escorre nos para-brisas 
dos automóveis vazios, os pássaros 
de asas quase imóveis calmamente
planam no frio matutino, o sol invade 
os poros das casas nas primeiras horas 
da manhã, a vida pulsa no interior dos 
ambientes, meninas se penteiam, meninos
escovam os dentes, olha todo mundo indo
pra escola, olha os pontos de ônibus, olha,
as folhas das árvores balançam gentilmente
com beijos de brisa no ar, o mar visto das janelas
dos transportes urbanos, hoje ela acordou com
o coração sem planos, sem grandes expectativas,
só aproveitando a alternativa que é simplesmente
viver sem ter que morrer por antecipação, doente
da alma, doendo por dentro por mais uma decepção,
sim, hoje ela despertou se sentindo maior, mesmo na
condição de mais uma na multidão, hoje ela sentiu
a importância de respirar, feliz por nada aparente,
sei lá, hoje ela sentiu uma estranha vontade de rir
assim, do nada e entendeu que isso era gratidão...

domingo, 14 de maio de 2017

Apenas ridículo...







Eu sei, é difícil, a moça é linda, 
daqui eu vejo a nuvem cinza em forma 
de ônibus flutuante levando a memória 
restante das cores berrantes de fogos de artifício 
que refletiam no teu olho, tarde desbotada, desapontado 
por amores que a chuva leva, lava teu nome escrito a giz 
de cera na minha calçada, luz de raio, uma foto fora de foco,
um trovão, o grito vão do céu em apelos que ela ignora, vive 
de mudanças, mas acidentalmente sempre descubro aonde ela
mora, perdoa se eu sorrir, é que meu sono ainda sonha contigo, 
desisto e admito, sem ti sou como um menino de castigo, chorando 
sob a mesa sem direito a sobremesa, um vazio constante, açoites e
versos absurdos em consoantes...

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Tua certeza também tem prazo de validade!






De partidas e folhas caídas pelo chão,
disso são feitos os caminhos do meu pobre coração, 
e mais tolo quem me diz, achando que só falo sozinho,
parecendo infeliz, meu velho camarada mar pra poder 
me confessar, falando sobre devaneios de pessoas de olhos 
gentis e sem muita astúcia, o tédio constantemente tentando 
me vencer, chorando por um céu de novidades, sepultando velhas 
angústias, sempre tendo alguém em mente pra esquecer, e até então
a parte que me cabe na cidade é a saudade, sem mais sonhos de porvir, 
à espera de nada desde a primavera passada, nada, nada mesmo por vir,
clara manhã, anos de tortas e portas na cara, ah, falsos doces lábios que 
zombam do meu raro sentir, mais uma vez me preparo para partir, pois hoje 
ela acordou assim, cheia de uma estúpida certeza e fez planos de ser bela até 
o fim, um dia pagarás pelo teu desprezo à singeleza, ah, essa facilidade com 
que esqueces, até parece que um dia não envelhece!

sábado, 6 de maio de 2017

Continua...






Andarilho, andarilho, sobre trilhos inativos,
por ladrilhos do chão da cozinha na madrugada, 
caminha em todas as direções e sentidos rumo ao "nada",
como todos os corações partidos impulsionam e quase já 
nem pulsam, funcionam como alforje para carregar nossas 
dores acumuladas ao longo de estranhas estradas, pouco importa 
quem despreza, pouco importa quem esqueceu, eu ainda acredito
na possibilidade de um olhar cruzando oceanos e anos para enfim 
alcançar o meu...

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Incomum






Dia mudo, mundo muda, dia mudo, mas meu mundo
não muda, um silêncio quase absoluto, ouço a prosa 
do mar com o vento, lamento não entender, não sei, 
acho que vai chover, "cinzamente" entristece o azul
do céu e os tons das cores do dia, mas preciso da calma
do som da chuva porque acho que nunca terei a "praticidade"
de algumas pessoas em renomear a solidão, reinventando o
amor a "seja como for", meu olho sente e nem lembro mais
há quanto tempo aderi ao vazio de ser assim tão diferente...

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Aquarelas na chuva




Suspiros de um perdido, 
sonhos esvaídos, conhecer, 
aprender a gostar, acostumar-se
pra depois ter que esquecer, tudo 
porque começou a chover e nesse 
ínterim, fragmentos de mim numa 
coletânea daqueles melhores sorrisos
que só você consegue ver nas gotas 
d'água que escorrem no vidro da tua 
janela, assim como ela hoje me fez companhia 
no fundo do ônibus, reflexos de mais um fim de 
semana sem, lá vem nostalgia e lá se vão os anos, 
das janelas dos transportes urbanos pequenos filmes 
projetados nas paisagens, nossos curtas-metragens...

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Um forasteiro







Estranhas estradas, saí sem rumo,
tem dias que não sei o que faço no espaço,
assumo, fugi de um mundo e seus prazeres
particulares pra me isolar num asteroide,
um menino com o bolso cheio de pedras lunares
afim de atirar no negro mar suspenso, contentar-me
em ser espacial porque nunca tive posses, nem status
pra ser feito especial, sem nada nas mãos, quem, Deus
meu me olharia atentamente só pelo mísero valor do
coração? Me chamavam "louco" por querer assim tão
pouco da vida, preciso comprar minha existência com
uma boa aparência, preciso ter automóvel pra ter colo
e choro a cada regresso à esse planeta perdido, mas então
lembro que agora sou nativo das estrelas, ah, que tê-las tão
perto de mim me fazem voltar a sentir-me vivo, rico, dono
da minha própria cratera, tem dias que viver no espaço é
tão confortável e descanso com o peito manso, que não sei
porque invento de voltar à terra...