quinta-feira, 28 de abril de 2016

Versos de um desclassificado





Da janela vejo olhos de cobiça,
desgraçadamente o vil metal influencia,
melancolia e preguiça, a minha alma é um
paletó surrado sob um dia ensolarado, ninguém
pra admirar o mar, há muito tempo cativo de um
sentimento exposto, triste sem, e após a frustração
número cem o amor da minha vida volta a não ter
rosto; o materialismo inibe a flor, proíbe a gratidão
e enche a minha cidade de solidão, quão abstrata é
a felicidade contra todo o concreto que deixa meu
bairro quase sem verde, à sombra de uma árvore
sentei e chorei por não termos nada em comum,
é tão raro poder ser raro pra alguém, e se tem algo
nessa vida que domino é a fina arte de ser só mais
um...

domingo, 24 de abril de 2016

E assim protestou o poeta...




Suave manhã dominical, o silêncio berra nostalgias,
entre magias de recomeços e tantas coisas que terminaram
mal, bem, fui apenas o cronista, à mim não eram permitidos
toques, nem sequer aproximações, meu dever era só observar
e sonhar em vão, minha vida era pretexto para os mais solitários
protestos internos, aqui dentro quase sempre era inverno;
a sorte declarou estado de greve e me definiu como um fantasma
que escreve, hoje a sorte tem varizes e vagas lembranças e quanto mais
envelhece, mais e mais pertence à formosura, amordaçaram, esfaquearam
e atiraram o poeta da mais absurda altura sem contar que os versos pudessem
ser eternizados e após minha partida cruzei vários céus de memórias, sim, eu vi arrependimentos, vi embaraços, vi laços sendo reatados quando enfim tentaram
entender quem eu realmente era, vi os que me rejeitaram vivendo sem mais novidades, depois que eu fui, fizeram de mim uma possibilidade...

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Déjà vu, Djavan...




Caminho sozinho
ao longo da calçada
à procura de cores emprestadas,
um sorriso de criança, um simples
olhar de igualdade que seja, o mar
beija a areia com toda singeleza, meu
peito implora pela beleza de um amor
inocente, daqueles que ambos dão risada
das meras bobagens do outro só pelo prazer
de se estar perto, eu não espero por coisas tão
docemente lindas por ser menos esperto; desejo
ardentemente ver o vinho voltando à ser água, ver
todas as minhas mágoas convertidas em canduras
que é pra melhor lhe proteger das solidões da cidade,
pouco me importa tua idade, quero te fazer sentir-se
menina no meu colo, ah, que nesse dia eu choro, olha
que céu, meus olhos perdem-se em um profundo azul
de déjà vu, do calçadão eu vejo o último casal na praia
e cantarolo tristonho:"Eu quero ver o  pôr do sol lindo
como ele só", "Lilás" de Djavan, o meu sonho é um dia
ser teu sofá, quiçá teu divã...

terça-feira, 19 de abril de 2016

Revolução do desapego




O fim da tarde, mas que céu lilás lindo
e eu aqui tão ausente, melancolicamente,
falando, bem, ferrado como de costume,
meu coração assume e some de onde não
se sente bem vindo, a cada esquina da vida
...incertezas, triste mesmo é o vício em tristeza;
oi, olá, meu nome é desperdício e eu acho que
não quero mais reclamar dos teus desdéns, não
sei de onde vens, nem nunca perguntei porque cansei
de tanta gentileza não remunerada, infelizmente é mesmo
assim, nada vezes nada é igual à mim, ah, que seja, dispensável
e insignificante, minhas doçuras apenas lhe tiraram a calma e o
que mais quis foi ter nossas almas encostadas, apoiadas e inspirando
uma à outra à prosseguir, mas agora preciso desesperadamente ir,
vou empilhar todos esses sonhos ilusórios e incinerá-los, eu sei que
vou chorar à beira da fogueira, e às esperanças restantes uma tórrida
e  corrosiva chuva em meu interior, por ora o amor que se foda, eu
vou te esquecer até antes do amanhecer...

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Órbita de ilusões





Respirando sabe-se lá como,
talvez sonhando outra vez, desolado
entre estrelas e escuridão, dívidas e
desventuras e uma puta saudade do
calor das tuas mãos, olhando para
trás 'indagora quase chora  ao lembrar,
não, eu não pareço com nenhum amigo
seu, eu não tenho um rosto como aquele
nem tanta auto confiança, tudo que carrego
agora comigo é uma trouxa de esperanças
nas costas e um coração cheio de remendos,
quem, cara, quem realmente gosta de gente
de mãos vazias? Estética, paraíso dos escolhidos,
inferno dos rejeitados e foi assim perdido no espaço,
desprovido de olhares de igualdade e abraços que
resolvi voltar, ah como é solitário o retorno para
um lugar aonde ninguém te espera, saiba, morreria
pela tua atenção, nós dois juntos admirando o céu,
deitados sobre um chão de primavera...

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Uma imagem recente...




Vida de vagar, pisando em falso
com os pés descalços na areia
sem ter aonde chegar, no rosto
a brisa mansa, a calmaria ao longo
da praia até aonde a vista alcança
e dentro de mim estou por demais
aflito, o peito em trincheiras, é mais
um daqueles intermináveis conflitos
pra tentar fazer desaparecer de mim
quem me inquieta, há uma imensa
tela com o rosto dela pintado meio
sorrindo de lado, uma quase inocência,
pra variar, ignorando a minha existência,
me encanta e dói demais ter que rever
esse quadro dia após dia, mas me falta
coragem de removê-lo da parede fria
de mármore do meu coração vazio,
alguém, por favor, destrua esse maldito
museu, a carne crua, a alma nua, não,
definitivamente eu não sou meu!

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Trajetória(O drama de tentar pegar na mão)





Olhares, tímidos olhares em direções opostas,
arde o sol matinal após uma chorosa noite chuvosa,
para cada dia de vida a devida melancolia; pensamentos
nos assombram e ofuscam a beleza ao redor, tanta gente
só e pouca gente sóbria, ah, mundo de ébrios e incontáveis
vícios no tempo que se chama "hoje", crianças correndo pelo
parque, e eles rapidamente se entreolham e voltam à deslizar
vagarosamente pra mais perto, e enquanto isso memórias, histórias
mal acabadas, derrotas dadas por certas, corações paranoicos em
alerta, olhos cansados, cabelos grisalhos, idosos ainda falhos e nesse
exato momento há um nascimento ao passo que em outra parte alguém
parte, os medos, os segredos naquele banco de praça e o ingênuo primeiro
toque de dedos até que então se  possa segurar a mão...


sábado, 9 de abril de 2016

Rabiscos de um mundo bom...





Nuvens desenhadas à lápis, um céu colorido à giz de cera,
o mundo inocente e seguro naquele sonho que eu tive, nada
de peito dolorido e o que antes me aborrecia agora esquecera;
eu morava numa casa na árvore com todas as minhas pessoas
favoritas da vida, sim, nessa realidade haviam muitas árvores, a fauna
interagindo pacificamente com os seres bem mais humanos, ninguém,
eu disse ninguém mais matava ou morria por dinheiro, o sol de tinta
guache feito pelas crianças iluminava o ano inteiro, nem desabrigados,
nem ninguém mais passava fome, todos sabiam os nomes de todos, havia
um rio misturado com o mar que corria de extremidade à extremidade do
mundo, da janela eu me preparava para um salto nas águas, o asfalto das
mágoas era uma estrada que ninguém mais passava, quando meu corpo
estava  prestes à sentir o frescor da calmaria, eis que o dia então invade
a casa abandonada chamada "coração" para me fazer amargamente lembrar
que a cidade ainda era a mesma, acordei e chorei...

terça-feira, 5 de abril de 2016

Conceito





De um lado os simplórios,
do outro as vidas extraordinárias,
nossos passos são previsíveis pelas
solitárias calçadas da rejeição do mundo
em que pisamos e a estúpida atenção que
precisamos; pessoas caminhando através
das outras e eu espero ao menos que através
de mim possam visualizar o mar ao invés do
mero nada, somos fantasmas que vagam pela
praia à espera do anoitecer, que merda, tem
sempre alguém pra gente esquecer, me vêm
à mente as memórias de infância, de quando
desenhava sozinho no chão da sala, perco a
fala por alguns instantes, que bênção era não
compreender várias coisas, vivendo apenas
de sensações, e os anos vão passando e com
eles as mudanças na arquitetura da cidade,
cores, dores, curas, pergunto à mim mesmo
num suspiro, de quem serei saudade?