sábado, 25 de agosto de 2012

Vida de quarto




















Tudo o que vejo, pingos de tinta
no chão de azulejo, os desenhos
na parede, os cd's na estante,
amanhece, escurece num instante;
tênis, fiéis ouvintes meus, e papéis
sobre a velha cômoda, fragmentos de
momentos não vividos em versos de
frustrações, o dever cumprido, o término
do dia, deitar com os segredos da fria
noite vazia, e adormecer após sair do
peito algumas queixas, em alguma AM
Raul Seixas cantarola pra morte, mais
ou menos assim:" Vou te encontrar
vestida de cetim, pois em qualquer
lugar esperas só por mim".

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Rumo



















Quem vem lá, quem vem lá,
de braços dados com o alvorecer?
Eis um perdido, ao longe, no adentrar
das madrugadas, ou teria se desnorteado
nos traços onde se formaram teu rosto
na chuva? Ou seria na longa curva dos
teus lábios? A lágrima no olho, a janela
vazia, e minhas roupas úmidas, sob as
únicas testemunhas da minha solidão,
aves de verão emigrantes de mim,
deixando-me cá com esse meu inverno
constante...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Triste ser/entristecer















Com "suavidade musicada" adentram os raios de sol
naquele quarto da mais alta torre da cidade acinzentada,
cenário onde jaz meu amor imaginário, e já há anos, sem
planos sequer de qual amanhecer haverá de despertar;
dia após dia esperando que ela acorde, emano "cores sonoras"
em minhas preces de bem-querer, e acordes de valsa, afim de
ver-te bailar sobre nuvens de sonhos descalços que cruzam
o solitário céu da minha boca, quer entardeça, quer escureça,
oxalá, nunca te esqueça.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Rejeita, triste sem














Beija a noite
os seus amados,
levados à encantos
por estrelas amantes,
reluzentes em seus corpos,
e ainda assim, invisível à olhos
teus, cá com estes tristes lábios
meus que nunca alcançam a maciez
do teu rosto, nem mesmo o calor da
pele, em toda tua singular morenês,
era uma vez um perdido, que sonhou
e acordou em mais um dia de incertezas,
e não importa onde vá, onde quer que esteja,
que não eu, solitária, a noite beija...


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dormi de mau jeito!















Quero porque quero um dia
ver-te adormecer tranquila, esquecer
de como a vi naquele sonho, sentada
sobre nuvens de um pôr-do-sol, teu olhar,
um farol dando curso à solitários navegantes
sem luar, dos quais, eu, em mais uma noite
de lábios flamejantes, alma inflamada porque
não a tive, mas certo é que te vi na fuga dos
teus últimos traços gentis de ternura, quando
então paraste de me sorrir, subitamente, nem
tua imagem tinha mais, era já de manhãzinha,
e sem decoro, à essa altura acordei me acabando em choro...

sábado, 11 de agosto de 2012

Sentença














Eu não sou daqui,
não desse estado,
nem desse pijama listrado,
não sou do dia de hoje;
talvez eu pertença à
este poema intitulado
"sentença", e só exista
pra que Deus insista em
me trazer pra vida real,
e telefonemas que não recebo,
e tal, sei lá, quando menos percebo
já é o fim do dia, rabiscaram as
alegrias de mim. Quisera nunca
ter saído das entrelinhas pra me
tornar esse verso triste, uma estrofe
à menos, e ficaria implícito que aquele
olhar sincero existe, sei lá, bem que os
ventos poderiam ser amenos, e as noites
mais serenas, todos ao meu redor têm
mentido muito pra mim, inclusive eu
mesmo, mas não queria, e por isso peço
à Deus baixinho quase todo dia pra que
possa voltar à morar na segurança da minha poesia...