terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Pela estrada afora...



Invernais, olhos invernais, eu sou a chuva espessa que em algum peito desabou, o acorde triste que o violonista sonhou, sedentos, em minhas perambulanças no decorrer dos anos ó quantos sedentos e quantos laços desfeitos, cá pranteando com meus sonhos imperfeitos e o mundo cada vez mais se abstendo dos meus abraços sob noites meigas e como um dia infeliz cantou Elis, "No mundo deserto de almas negras", ao redor o vasto nada e tantos de nós falando sozinho à beira da estrada, gente traída, gente deixada, gente esquecida, cujas feridas expostas ardem sob o sol castigante da realidade, as mãos nos bolsos do jeans surrado, a barba esbranquiçada, o tempo implacável passando tão rápido na nitidez de amargas memórias, sonhos desfeitos por gente falha almejando o utópico "perfeito", pois é, desclassificados agora desclassificavam e só Deus sabe quantas vezes pensei em desistir, ó quão pouco era meu tudo até entender que na verdade era o meu suficiente e foi voltando ao básico da gratidão que então deixei de envelhecer assim tão rapidamente...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Alma obesa...



Trânsito lento, vida "engarrafada", à beira do asfalto parecia sonolento, mas era só vontade de nada, felicidade, todos a postos e mesmo que em rumos opostos, hoje "miséria" bem rima com histeria; o sol refletia no mar, enchendo a cidade de calma, mas hoje essa luz em mim efeito não surtia, dada a opacidade da minha aura, eu não queria falar, sorrir não me apetecia, tudo que eu queria era uma visão panorâmica do mundo além da nuvens e decepcionantes "poréns", um filme sem som em um dia nada bom, hoje eu não seria um morcego, nem tampouco borboleta, tomada já pela amarelidão, hoje eu seria uma antiga carta ao vento, o capricho da letra que tanto se diz, hoje eu seria apenas a nostalgia de um longínquo tempo feliz....

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

À isolar-se...



Fim de tarde na vida do menino, sem destino entrou no metrô e o olhar rapidamente perdeu-se nas paisagens em movimento, nunca foi lá de muitas viagens, previsível, invisível, tão convidativo agora parecia o confinamento; estático ante um mundo histérico, por quase toda vida melancólico agora colérico, na mente ecos de indesejadas vozes involuntárias, emotivo, implosivo e quase rosto, a velha solidão em plena multidão, um janeiro com ares de agosto e o crescente desejo de pertencer à lugar nenhum, mais um que adoecia, desceu numa estação qualquer, lá fora já escurecia, seguiu a pé falando sozinho com o pesaroso peito em açoites e de sua melhor confidente, oportunos amplexos teve da sua amiga noite...