domingo, 29 de janeiro de 2017

Versos versus desprezo(Loucos sentem, sabe...)





A chuva de cores do sol sobre aqueles corpos à beira mar, 
visões de um mentecapto, ondas de uma maré cheia deslizam 
pela areia como tímidos primeiros toques de mãos que anseiam 
um dia se encostar, se dar, ah, toda essa beleza de lugares nos quais 
não pertenço, me alimento de memórias de ilusões e cenas que bem 
poderiam ser minhas, mas meu peito bem sabe, a magia dos musicais 
não me cabe, talvez nunca caberá, o que será de mim vagando sozinho 
pela terra dos efusivos, não há coreografia ensaiada no filme que fui 
posto, não há fotografias de rostos colados, sabe, nada, além de cruéis 
sonhos vãos, resta tentar ficar são; nunca fui astuto, dê-me um som de 
gaita para que sente no alto do viaduto, olha o mercado central, cara, 
daqui de cima tudo parece tão calmo e normal, alma de azedume, porra, 
dói lembrar do teu perfume, mas eu não sou um suicida, nem tampouco
alcoólatra, sou apenas um "chocólatra" entendendo ano após ano que o
suposto tempo escasso de muitos nada mais que é falta de interesse sobrando, 
menina rasa, dona de todos os olhares deste tolo profundo de asas arrancadas,
devo dizer, é direito meu tentar te esquecer, no desespero da sanidade mental,
isolar-me em prol da paz desse meu estranho mundo e tal...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Intranquilas preces...







Invernal, céu invernal, sou animal inquieto com aquele
gosto amargo de "fim", na mente, triste e insistentemente 
aquela canção do Roberto,"Do fundo do meu coração não
volte nunca mais pra mim"; com ingênua confiança e ao mesmo
tempo medo agarrei a rosa singular com espinhos e tudo até o rio 
sangrento escorrer entre os dedos, sabia dos riscos, doía lembrar
dos discos arranhados, doía pensar na porra do dia dos namorados,
angustiante era a idéia que de uma fonte tão bela não bastasse o
êxtase, lamento, cortante era a frustração de tê-la vez por outra só
em pensamento, mas de tão insistente, com meus próprios pés eu fui
até a beleza pra ser ferido, esquecido, em minhas preces desta noite
não dizia mais "Mora em mim", entre gemidos e susssurros agora só 
imploro para que morras em mim...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Poeta filho da puta...






Melancolia, à ti pertenço, penso e me conformo, mais de uma década 
sem lá muita manha sob as artimanhas da noite, sorrisos furtivos em 
lábios de segredos, mais cedo confrontei pensamentos sombrios de pôr 
um fim em tudo, os corpos se dando e eu aqui flertando com o absurdo, 
na boca ao invés de um beijo um bocejo, a madrugada esfria e acinzenta, 
misérias e histeria, a cidade cada vez mais triste contrasta com a alegria 
que meu coração inventa, reles poeta aperfeiçoa a prática da invisibilidade, 
insanamente sorrindo da tua rejeição...

domingo, 22 de janeiro de 2017

Ô abre alas que o tempo passa....






O sol se diverte às minhas custas e não sei de quem gostas,"Deus, por favor, deixa ser dessa vez 
do jeito que eu quero", domingo e Morrissey porque não sei mais por onde andas, "zero" tatuado, escrito no peito, olá, meu nome é universo em crise, pizza  fria e seriados em reprise, caso precise me encarcerar no quarto novamente; na falta de asas, me internarei em casa, pois o silêncio está cada vez mais escasso e precioso, e eu não sei o que eu faço com tanto sentimento preso e receios de não desapontar, nem ser desapontado, uma paranóia de não enfeiar  o mundo, olhos fatigados, as fugas vão diminuindo com as aparições das primeiras rugas, os dias fúteis se distanciando e a alma vai ficando flácida, meia luz e uma diva  negra no microfone, cantando o blues da minha partida, sonhei que havia morrido aos oitenta, chorei ao despertar, acabara de completar quarenta...

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Fugir de onde não dariam por falta...







O abismo me encara e sente vertigem, 
depara-se com um semblante sem ironia ou 
cinismo, genuína tristeza de um peito em ruínas, 
um pedinte, depressão sem ouvintes, sentimento 
em abandono de quem se desfez do meu melhor 
como cão sem dono, um bilhetinho de amor desprezado 
dentro de um livro em um "sebo" qualquer da cidade, 
não sou só saudosismo, e por mais que seja difícil crer, 
por conta do pessimismo, sim, em algum lugar da terra 
eu sou saudade, em algum canto do mundo alguém recorda 
minha imagem como um ser humano profundo ao invés de 
uma ameaça ou louco de pedra, alguém na vida viu alguma 
queda minha e pensou em me dar socorro, sei, de amores não 
morro, admito, eu fui quem bateu à tua porta, então é direito 
meu parar de bater, sair do seu caminho e sumir como me é de 
praxe, é quase utópico achar onde me encaixe, mas eu não mereço, 
nem preciso de esperanças vãs, o lamento final é mera frustração, 
não tem nada a ver com sentir  falta de quem maltrata, o plano era 
deixar pra lá, cabisbaixo vaguei sob a noite alta, a lua tão cruelmente 
linda, quase virgem, em meu rosto não foi encontrado ironia ou cinismo, 
mas dó da solidão que se depara, o abismo me encara e sente vertigem...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Pega tua insignificância e anda!





Tive, por diversas vezes eu tive a íris dos olhos mais colorida 
do que o costume, versos de boemia, pseudo poesia que meu peito 
assume, bem, ao menos assumia, a cada rejeição de canduras, cara, 
eu nunca protestava, apenas aceitava a dura vida e sumia; a velha 
trouxa de esmolas sentimentais nas costas, um vagabundo amante 
de alma rota, deitado ante outra estranha porta, vendo o movimento 
das luzes e ouvindo vozes de gente que "vence", mas tendo observado 
por anos a fio, toda essa obstinação não impressiona, nem convence 
mais, no bolso ao invés de cigarros trazia muitos "ais" de inspirações 
arrancadas por tanta gente cheia de si, no meu vazio tantas vezes eu ri, 
lembra com serenidade da atenção daquela cadela que brincou na manhã 
passada, o coração bem mais cheio com a lealdade daquele animal do que 
míseras e meras pessoas exteriormente bonitas, o blues da gaita ao relento, 
os trilhos do trem, todo meu amor por desdéns, Fiona Apple me esfaqueia
com canções de azedume na lembrança, estômago vazio e coração deveras 
farto de reciprocidade zero, quero, mas preciso abrir mão, sigo a lei, em cada 
canto dessa cidade onde não me sentir bem vindo, dali simplesmente parto...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Chuva pra lembrar...







Nuvens de chumbo na escuridão do céu, noite sem luar, 
solitárias silhuetas nas janelas dos quartos de apartamentos, 
o ar cálido, o trânsito lento e eu era como um anjo pálido com 
amnésia à beira do asfalto de quase meia noite, fragmentos de 
um rosto me traziam ternura e inquietação, qualquer coisa no
coração indicava que eu estava à espera daquela moça antes de 
me "desmemoriar", quanto mais eu ia me perdendo nas curvas 
dos teus contornos faciais, tua lembrança voltava e sentia-me
cada vez mais só, e eis que então o céu se comove e chove, e foi 
dançando triste e insanamente sob aquele temporal que fiz preces 
de bem querer pelo meu lugar ao sol, lembrar que estava gostando,
outra queda, a dor da memória voltando, que merda...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Desistir de não existir







Orégano e origami, eu sou o cabisbaixo pobre amante 
feito de papel, despetalando a flor no meu costumeiro 
empobrecer, "Mal-me-quer, mal-me-ame", o velho vício 
de perder, aquelas meninas efusivas discutiam yin-yang
e eu seguia na minha solidão tranquila, a noite, a antiga
bicicleta e Neil Young, vagando sem amor ao som do bom 
trovador porque ela era um tanto artificial que nem os néons 
ali da rua principal e com veemência ansiava pela luz natural 
da lua, carência desmedida de adoráveis coisas simples e sua
beleza já nem valia mais tanto à pena, por demais fatigado de
encontrar sentimentos apenas nas entrelinhas, entre aspas, fogo 
de lamento na chama alta das cartas, o dissabor venceu a saudade, 
em cada canto da cidade um esquecimento...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Morena agridoce






Ternuras, texturas da pele, teu odor, lembrar, oh, dor! 
Segredos entre os dedos ao teu mais breve calor; mas com receio, 
vai que não é mero devaneio outra vez, meu doce querer nada efêmero, 
dona sorte, please, me diz o que eu te fiz? Suor frio, mar bravio, têmpora, 
temporal, direção, diretriz, mar, nau, now venha cá, linda atriz, que aqui 
tem alguém perdida e estupidamente ao meio, saia, cílios, seios, e foi me 
perdendo em ti tanto assim que cheguei àquela velha conclusão:"Eu não 
moro mais em mim" e foi encarando esse chá esfriando que voltei à si na 
solidão da cozinha de madrugada, aceitável receio, teu mais breve calor, 
segredos entre os dedos, um lunático e mais um cruel devaneio, trazer à 
memória a delícia do teu odor, oh, dor, vadia sorte atriz, please, me diz o
que foi que eu te fiz?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Transmissão ao vivo de lugar nenhum...






Terras áridas, mais uma de minhas estranhas passagens, 
sol seco, poeira e paisagens no meio do nada, entre aeronaves 
e automóveis em marcha ré com o blues da estrada na mente 
porque a fé têm diminuído consideravelmente; cativo pela cor 
da tua pele cá com meu olhar cheio de centelhas, ah, teus olhos
espertos, Deus, tuas sobrancelhas me fizeram buscar umas horas 
de invisibilidade, e com a cidade festiva, então, não tinha outra 
alternativa, já que me sinto esquecido, sim, poderia ter enlouquecido 
de tanto pensar, imaginar por onde e com quem andas me maltrata, 
por ora te odeio e não nego essa cortante falta que me fazes, lugares 
ermos, lugares ermos, entre aeronaves e automóveis em marcha ré 
pedalei pra bem longe afim de renovar a fé...em mim mesmo.