segunda-feira, 26 de março de 2012

Tênue




















Chão da madrugada,
foi-se o menino feito de
cristal fino, espatifou-se
em estilhaços, caído do
alto da estátua feita
de aço, a bela moça ali
parada sem dizer nada
o deixou cair, e ser soterrado
pelos escombros da casa do
desamor, amanhece, e o
mundo esquece das feições
do rapaz que antes tinha pele,
tênue de tantas rejeições, a fé
enfraquecida pelo dia que fere,
o menino feito de cristal fino..

sábado, 24 de março de 2012

Esboço



















Uma pena tua beleza,
faz-te por demais segura,
à ponto de sentir-se um
tanto tonto, a frieza dos
teus olhares lançados à
lados opostos onde caí,
saí pra ver o mar, mas
mesmo assim foste tatuada
sob a pele do meu peito,
sento, e te escrevo meio
sem jeito sobre o que sinto,
não me atrevo tentar te
mostrar, minto pro sol
fraco, que nem estamos tão
distantes assim, mas acabo
em desabafos, do quão
insignificante sou ante
a poesia dos teus traços,
e o inferno que é não lhe
ter nos braços, meus olhos
trêmulos, meus pés vacilantes
em desequilíbrio, o pêndulo
do dia denuncia toda minha
certeza, e cá comigo, tanto
penso em tudo que queria te
dizer, e termino por rabiscar
na areia da praia: " Uma pena
tua beleza..."

terça-feira, 20 de março de 2012

Melancovia





















Se não for de voar, que caiamos juntos,
mas que assim seja, juntos; minha oração
no findar do dia é pelos amantes frustrados,
mais ainda por céus tão estrelados, de noites
tão quentes, e ex-amores recentes, que bem
poderiam estar aproveitando o frescor do
relento, ao invés de estar deitado em meio
ao caos dos bilhetinhos ao vento, relendo
pela trigésima vez a "carta de dispensa",
dando baixa à crença de melhores dias
vindouros, o mais novo incrédulo de versos
amargurados, o que d'antes foram por demais
"açucarados", e disso é feito o poeta, um coração
como mera avenida de acesso, onde tantas moças
passaram sem ali parar, e sem saber ao certo se
ela um dia estará naquela via deserta.

sábado, 17 de março de 2012

Asas, pra que te quero, asas!















Todo dia estranhamente sonho
que o Homem-Pássaro, me
empresta suas asas após às
11, hora essa em que costumo
sair para o meu vôo noturno,
e sobrevôo toda a cidade, sobre
as luzes, bem próximo às nuvens,
tô indo te visitar, torcendo pra
que tenhas adormecido com a
janela entreaberta, dei sorte,
e lá embaixo, tua rua já deserta;
Quero sentar ao lado da tua cama,
quero passear nas curvas do teu
rosto com meu indicador, lhe conto
mil segredos ao ouvido, para que
acordes sem medo do meu amor,
lindo é ver-te dormir sorrindo,
aproveito, e arrumo a bagunça
da tua cômoda, mas no silêncio
de um protetor que não te incomoda,
e movendo-me na ponta dos pés, velo
teu sono, deitando pertinho, e bem
quietinho, são duas da manhã, as
asas que devolvo já nem preciso mais,
posto que te envolvo em meu peito,
armo um cama com docel, e tudo,
no fundo dos olhos, pra menina
que jaz em mim com o céu de si,
tua presença me vem como crença
e recompensa, vou deitar pensando em ti...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Um gole de sol
















Radiante, o sol de quase
fim de tarde, ô quentura,
o Domingo ainda arde
em ternuras, e o mar
mais fresco, peco em
não estar lá, perco o
olhar na distância da
minha janela pra lá,
bem que poderia ter
sido um pouco mais
esperto na infância,
já que moro há tanto
tempo tão perto da
praia, tomara que
caia logo a noite, que
me jogo daqui pra lua
à pé, em ritmo de brisa,
leve, e vagarosamente,
"avisa lá que eu vou
chegar mais tarde, oh, yeah!"

sábado, 3 de março de 2012

Blues da chuva




















Vento vaga, e sobre o cinza,
o céu divaga, pois aquela moça
não precisa de um menino com
farelo de biscoito na camisa, e
ele põe-se à "nublar", perdendo
a cor, mendiga atenção às portas
do envelhecimento, vindo de vários
esquecimentos, em um branco
quase incolor. Vai caindo a chuva,
e o dia insensível o torna visível
por instantes, apenas, um rosto
inexpressivo forma-se em indagação,
"Quando haverão de cessar as
curvas de lábios estranhos, e
estradas tristes sem tamanho?",
pergunta à própria sombra, e
sobre o cinza, o céu divaga,
o blues do lamento dos pingos
no chão, enquanto vaga o vento...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cantinho de monólogos
















Quase sempre vejo gente
contente, aonde vou, sei,
não sou, só posso estar
feliz por ainda ter meus
dentes, ah, pra quando
puder sorrir, né, quem
diria que um dia meus
banhos de chuva tornariam-
se disfarces pras minhas
lágrimas, invisíveis prantos,
aparentar estar em paz,
para que ninguém perceba
que eu nunca mais tive
um par; vinte anos atrás
eu jamais imaginaria que
só me restariam o vento,
ou as paredes como ouvintes,
ninguém pra ver tevê junto,
e tanto assunto, de que valem
tantos cômodos numa casa
de monólogos incômodos,
monótonos, danos de um
coração sem dono....