terça-feira, 28 de maio de 2013

Que a tarde more em mim e que tu morras em mim!



 Fios dourados,
o brillho intenso da tarde
invade meu quarto fosco,
até parece que não vai mais
chover pelo ano todo, e eu
só queria dormir até morrer,
otário assim, por onde eu posso
cortar caminho para o fim, qual
o melhor atalho?
Me sinto velho e sozinho, eu sou
um menino azul à janela de um ônibus
cinza, esquecido pela garota de sorriso
amarelo, rancorosa, com seus sonhos
cor-de-rosa, e toda sua sentimental frescura,
oh, quão vazia, tal qual a noite, escura e fria...
 

domingo, 26 de maio de 2013

Esquecer...



TV à cores, o vento sopra,
sobra espaço no meu peito
escasso de amores, por tua
causa pus em pausa aquela
nossa cena, mas agora nem
sei se realmente vale à pena;
uma foto tua sequer eu tive.
então nada de pertences pra
levar ao declive das minhas
pobres lembranças, a inquietação
incinera-me por dentro, já há algum
tempo que o sentimento tornou-se
enfermidade, uma tremenda vontade
de fugir da cidade, não, creio que só
apagando tua existência de mim daria
o fim perfeito à minha infeliz insistência,
acreditei e amei sozinho no solo macio
da calçada encantada, mar do esquecimento,
agora um mergulho pra afogar o orgulho,
dentro d'água cá com minhas mágoas e
feridas expostas, desinteressando-me em
saber de quem tu gostas...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Aos armados, aos mal-amados..

Em diferentes extremidades da cidade:
um cara no topo de um edifício, pensando
o quanto tudo têm sido tão difícil, céu cor
de marfim, e seu único propósito de vida
nesse exato momento depende da força
do vento, e um salto pro fim; do outro lado
da tarde, há um homem alado com os pés
plantados no chão, planejando um assalto,
em uma das mãos a beretta, na outra uma
borboleta que acabara de pousar, cerra o punho,
morreria no mês seguinte, junho, após um ferimento
grave num troca de tiros, suspiros, alguém finalmente
encontrou aquele outro alguém especial após entraves,
e assim segue mais uma historinha, a cidade e suas
diferentes extremidades, concreto, conflitos, um grito,
uma alma desarmada, uma flor nasceu na calçada... 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Criança inventada...





Existe um sonho de infância
que até hoje carrego comigo, 
meu irmão e minha mãe logo
mais na frente, e desesperado
eu tentava estar do lado, mas uma
onda me arrastava pra trás, e eles
iam se distanciando até eu não
pode vê-los mais; minha barba
cresce, meu cabelo rareia, ninguém
ou pouca gente sabe, mas eu ainda
sou criança, pena, as pessoas só
enxergam crianças de pele macia
e férteis mentes vazias, um certo
tamanho, no mais sou só mais
um estranho que não consegue
acompanhar o mundo, no mais
eu tô no meio de um sono profundo
no meio do mar, mas nunca consigo
acordar, caminho por entre sonhos
alheios, passando por terras que não
pertenço, não importa o quanto penso,
não chego à uma conclusão que não seja
a de ilusão, vejo carros e pessoas se distanciando
todo dia, o dia todo, eu tenho duas missões
no tempo presente:sumir e deixar partir de repente...

sábado, 18 de maio de 2013

Falando de ti pra mim mesmo...

Onde tu esconde teus olhos
que me pego muitas vezes
na tortura da procura?
Qual foi a última vez que vi
minha linda, verei ainda?
Quando? Onde?
À cada sinal teu, menos ateu
e momentos amenos nesse mar
de silêncio, já nem me afogo, flutuo
e peço que volte logo, sinto uma
inquietação de infância, mas não
meço distância dos nossos olhares
na nossa conversa secreta, que aliás,
tanto faz porque você nem sabe, ei,
eu tô andando de bicicleta na chuva,
passeando pelas curvas das covinhas
do teu rosto, por onde for faço menção
do meu amor, e não consigo esconder
minhas linhas de expressão à cada sorrir,
meus amigos todos sabem de ti, noite de
sábado, pra onde você foi? Perdoe, eu não
sou um vingador mascarado, apenas um tolo declarado!
 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Ode ao vagabundo



Outro ano, outro outono
pelos chãos do abandono;
vaguei por um caminho de
folhas caídas e ruas sem saída,
vacilante, um viajante perdido
com um único pedido:"Beleza,
beleza...", incerteza até onde
a vista alcança e clamando calma,
a dança da solidão na escuridão da
alma, caminhando e chorando,
fui chovendo por dentro, sofri, e
chovi muito, mas de cinzendo fui
me ensolarando até que havia em
mim um dia azul, ó, tu, com essa
varinha com um lápis-de-cor na
ponta, o que me conta? Ela tem
cheiro de primavera, ela era uma
flor à beira da estrada que há tanto
tempo trilhei sozinho, às vezes 'té
mesmo sem o vento, e após tantos
anos de negação, e invernos deixados
pra trás, enfim paz, ela é o achado da
minha peregrinação...

domingo, 12 de maio de 2013

Frestas e buracos negros



Oh, eu não sei o que fazer
com esse vazio entre o A e o Z,
um alfabeto é pouco pra descrever
o futuro incerto do amor de um
perdedor; um filho da terra, perdão,
orfão de puta em dias de luta, cá
com meu par de sapatos fajutos
sob viadutos e lugares ermos,
um enfermo amante, uma mecha
escura em um dia primaveril, e ela
nem me viu passar pela brecha na
parede do quarto, a cabeça acima
das nuvens, um pouco menor que
um rato de pelo roto, vagando pelos
esgotos das tuas memórias, sim, sou
a escória da tua alma, batendo palmas
pra mim mesmo, sempre  que recito
minhas misérias ritmadas, ó, moça,
não me tires todo o "nada", que "tudo"
nunca me caiu bem, moro há quase
três semanas dentro de uma caneta,
e em meu peito cabe um planeta, oh,
eu não sei o que faço com tanto espaço!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Mora no esquecimento...

Atualmente na tua mente:
Uma fotografia minha na gaveta
dos teus arquivos de memória pra
serem apagados, o som do meu sorrir
ainda te dói, mesmo já fazendo parte
do passado; um poema torto, um poeta
morto à te assombrar sem intenção, nossa
antiga canção faz-te mal na tua vitrolinha
mental, perdão por esse sentimento que 
não cala, e pela desculpa que não cola,
meu coração, um papel de bala em algum
lixo da tua escola, teu coração atualmente:
atua, mente...

sábado, 4 de maio de 2013

À espera de alguém pra esperar...

Mil sóis de faróis na avenida, bem- querer sem querida,
monólogo de um ébrio apaixonado:"Baby, tenho não, nem
carro, nem mesmo um cigarro pra te trazer alguma calma,
posses, nem nada, perdón, é que eu tenho esta bendita
alma amarrotada..."; embriagado de amargas nuvens de
desdém, lembrando com bastante zelo do cheiro do teu cabelo,
cometi um pequeno furto de um florista, aproveitei e pedi emprestada
uma máquina fotográfica de um casal de turistas, e após um "plis",
um retrato infeliz em uma noite nublada, pena,  fim da cena, versão dublada
em filme B, e a minha declaração de amor já era, tudo pra você perceber 
a dor da minha espera... 
      

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Versos vadios



Ah, esse mel no céu da tarde,
o sol deliciosamente invade o
peito desse sujeito mal vestido,
encantado e decidido à descer
por trás, grato por demais por
ainda não ser o fundo do poço,
é só o fundo do ônibus, e ele a
trás no bolso esquerdo da velha
camisa, bem juntinho do coração,
sua companhia, sua mais bonita
canção, lembrando dos tempos
que tocava campanhias e corria,
sorria com a tola lembrança, imagina
uma dança sobre nuvens rosas desse
entardecer, mas antes quer saber se
ela aceita para que caiba em seus abraços
desmedidos, felizmente perdido nas
coisinhas gratuitas da natureza que
aproveita com ela, sem que ela mesmo
saiba...

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Quero ser blasé!




Eu quero algo...
algo com odores de talco, tão suave quanto,
e para onde fores, flores pelo chão de verdes
pastos; eu quero algo macio como travesseiros
em dias frios, meu bem, ora veja, que assim seja
a pele que eu beijo pelos poros do meu desejo, e
nessas idas e vindas da sorte à oscilar o bom roçar
de nossas vidas, em um quase que perfeitamente
afinado tom, músicas da mente pra nos trazer sempre
à memória, história, quem a teria contado? Por que raios
não nos contaram antes, uma manada de elefantes vieram
após tua ida, e eu fiquei ali deitado só pra ser pisoteado,
olhei em volta, era um estranho jogo, suponho, hei de acordar
pra ser blasé, agora eu quero algo como álcool pra atear fogo
na pôrra de tudo que se chama sonho!