quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sou(soul)

















Quantas vezes lhe vejo
em meu querer, e nada
proponho, sequer pergunto
pra onde vais, sou um sonho,
me acostumei à ser deixado
pra trás, provoco sensações
enquanto durmo, sumo quando
acordo, uma fuga pelos mares
de melancolia no fundo dos teus
olhos, navegando em acordes de
melodias tristes, e desafino, me
chamo desatino, uma fábula que
existe, e em nada insiste, na confusão
do salgado com o amargo sou tuas
lágrimas xícara de café, e lá se vai
a fé; sou o desespero de alegria na
tua mais alta gargalhada, sou a parte
do teu passado onde amavas de modo
impensado, sou teu descontrole, vivo
nas folhas amassadas dos teus rascunhos,
sou tua parcela de artista falido, o sangue
em teus punhos, no ódio descarregado no
espelho, sou o silêncio de um entardecer
vermelho, numa transição pro azul, sou
teu blues, sou teu coração partido...

domingo, 20 de maio de 2012

Todo sentimento do mundo(em questão de segundos)















O sabor do som que o paladar da alma
não rejeita, como um misto de todas as
músicas que ela adora, e como fosse misturar
todas as cores do dia lá fora, numa mesma íris,
em uma perfeita tonalidade para os olhos, assim
ele veio...receio...veio, e veio como enganador,
veio transfigurado de amor; acreditava ser o fim
de uma espera vã, eram quase três da manhã, de
uma madrugada enluarada, e ela cantarolava, e ela
tagarelava, a amiga parede lhe curtia efusiva, servia-lhe
de diário, e confidente, pareciam férias para a fada-do-dente,
dava as costas pra estrela cadente, arquitetando planos,
ora vem, vida voa, um ano sem, lamentos, esquecimentos,
e ela chora à toa outra vez, o amargo do quarto cinza, o
som do vazio estridentemente frio, madrugada, quinze pras três...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Ego de palhaço
















Olhos marejantes,
torta flamejante na cara,
quando bate o sino, sou um
palhaço com cara de menino,
e estilhaços de coração na mão,
há vestígios de primavera sob a
mesa da sala, e as crateras de
incertezas em meu percurso nem
se fala, talvez eu corte os pulsos
com um desses cacos de mim, o
lado mais escuro da lua é ali no fim da rua;
me ponho à indagar em plena praça
pública que graça há em ter o rosto
pintado de sonho, se ninguém há de
vir, ou ouvir meus apelos em ver-me
livre dessa máscara feita de pesadelo,
meu mundo é um circo de aberração,
com lamaçal, e arco-íris de ilusão embaixo
da tenda, sei lá, quem sabe eu não viro lenda,
o cúmulo de uma flor que nasce no lugar do
túmulo, cresce, e sobrevive na fenda de uma
rocha, pétalas, pálpebras, adormece, desabrocha...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Desafortunadamente amante
















Claridade...
parado ao teu portão,
eia lá novamente aquele
mancebo com um pente
no bolso, encostado em
seu veículo semi-novo,
lhe trouxe caras flores
artificiais, ali da esquina
deu pra ver a malícia do
sorriso por trás do buquê.
Brilha o sol, estou só,
penso, mas não sei se
me atrevo à fazer-te uma
visita, por não ter nada de
mais adequado que me vista,
a não ser aquele antigo terno
de remendos recentes, e pra
aumentar o embaraço, de
retalhos de cores diferentes.
Eu tenho uma bicicleta toda
pintada de preto, e um café
amargo mais escuro ainda
pra desjejum, sou mais um
com fome mesmo é de amor,
queria poder levar-te alguns
bilhetinhos com versos singelos,
uma flor natural, roubada de
algum jardim no caminho que
lhe caia bem no cabelo, mas
a primeira nuvem negra deslizou
em frente à minha janela, quando
abotoava o último botão do velho
paletó, dou por mim que perdi
um pé do par do sapato, o pneu
da bicicleta murchou, e lá se foi
meu verão, o céu chorou, tempestuoso,
escuridão...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"Eme" de música, "Bê" de Brasil, "Pê" de puta que pariu!





 
Um sonoro "yes" para o jazz de Jobim,
feliz porque Elis mora em mim, o bem
que Jorge Ben me faz, xô, satanás, que
estou à beira do portão de embarque
pro reino da alegria, "sorria, você
está ouvindo Chico Buarque";
"Acabou, chorare" faz de mim rapaz
emocional, e é certo que me acabaria
de chorar se pudesse ter aquele long
play do Tim Maia Racional,  quem
dera o autointitulado Os Mutantes,
o primeiro disco de Baden, "À vontade"
deixa qualquer cristão com muita
vontade de samba, e sem deixar pra
amanhã, como um bom vício, "Tarde
em Itapoã" de Toquinho e Vinícius,
Caetano o ano todo, Gil pra quem
ainda não ouviu, ranzinza João
Gilberto enfeita dias cinzas com
esse monte de bossa, pra deixar o
mar entrar no peito aberto, ah, mar,
e se for de amar, ou pros calos de amor,
Roberto carlos, POR FAVOR, 'té porque
"As canções que você fez pra mim" não
vieram de você, muito menos feitas pra
mim, mas, ei, ei, menina, sente aqui
comigo, sente, e sinta aqui o formidável
"Clube da Esquina", que enquanto a gente
ouve, uma estranha linda coloração no
céu, misto dos mil tons de Milton, e
não me recrimine se eu chorar quando
tocar alguma coisa de Flávio Venturini,
"baby, você precisa saber de mim", vai
com a Gal que dá legal, ou então que
impere a doce teoria de Bethânia, na
"arte de sorrir cada vez que o mundo
diz "não"", a tristeza quase que não me
abandona mais, mas, em prol de tanto
azul lá fora, fauna e flora, gratidão
inteligível, as vogais em um sorriso
cru, a, e, i, o, u...TOCA RAUL!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Retiro pessoal


Vento em forma de brisa leve à vagar,
fui ali na praia orar; vejo crianças
salpicadas de mar, vejo corpos em
tentação, os ambulantes, o sol da
tarde docemente doura a barriga
da gestante, a onda carrega a grande
bola colorida pra longe, e os pequenos,
sorrindo, a deixaram de lado, inventando
algo novo pra brincar, fui ali na praia orar.
O pássaro de vôo rasante, como quisesse
sentir o cheiro salgado da água, o frescor
que vence o calor das mágoas ali deixadas,
e como todas essas pessoas deitadas, me
posso encontrar ao deixar-me perder no
azul à perder de vista, tanta coisa ruim que
esqueço, e mesmo nas limitações do meu
campo de visão, enriqueço, nesse exato
momento enxergo paz pra onde olhar, num
saudável esquecimento, tudo porque saí de
casa pra ir ali na praia orar...