terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Na paz do meu vazio

















O que tu és, ou foste
pra mim?
Teu nome é frustração,
ontem era qualquer coisa
doce, seja como for, fosse
o que fosse, me trouxe dores
em papel celofane, a utopia
que me ames, esqueci, que
amasse um dia, ah, sei lá,
que ao menos me odiasse
com vontade, prefiro isso
à mediocridade dos teus
sorrisos sem gosto, forçados,
pior, enforcados!
Declaro a forca pras minhas
angústias de faltas de astúcias,
gilhotina decretada à minha
ilusão, na esperança de ver
uma quebra de rotina, a
redenção da solidão de não
se estar rendido à quem me
tinhas por sobejo, ao mar
no qual a beleza é irrelevante
pra se estar, um beijo.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Tuas inverdades



















Náuseas de ceticismos,
o contraste que há no
brilho do teu cabelo
com esse sinismo dos
teus lábios secos, quando
dissimulas; a primeira
vez que eu a vi, parecia
toda feita de cristais,
perdida numa imensa
floresta de mármore,
tão frágil, tão fácil
na beleza da tua carência,
a ciência da vulnerabilidade
sempre me enamora, e agora
me deparo com tua estranha
habilidade de não ser você,
é, talvez essa até seja você,
mesmo, e aquele rosto que
resplandecia não passara
de uma máscara que refletia
a luz da lua, acho que mesmo
estando despida, nunca hei
de ver-te nua, em verdade,
porque, na verdade, sonhei
com aquilo que imaginava ser
você, foi ver pra crer, e então
pensar no caminho de volta,
olhei em volta, e me peguei
falando sozinho...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Desníveis do mundo


















Já que não há
pra quem ligar,
o mar é bem mais
fácil, não tem desculpas,
ou inverdades pra ouvir,
posso ir; enquanto isso,
em alguma parte da
cidade, ela se debruça
na janela, procura
refúgio na lua, talvez
até já tenha me visto
passar na rua, mas
como outro qualquer
lá embaixo, e eu não
acho graça nesses tais
desencontros, ou no
vazio que há na distância
das forças, sinceramente
eu nunca vou saber por que
a vida é assim, um belo par
que não se faz, a lua em ti,
o mar em mim...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Eu não me convenço!



















Ela sorri,
e tem a convicção
de nunca vir ao
meu mundo inóspito,
nem que a passeio,
opta por lugares de
sonhos estabelecidos
à essas terras no meio
do nada, de inférteis
solos esquecidos,
fundamentos da
morada de pensamentos
enfermos, de ermos
terrenos incertos, e sem
outras casas por perto.
Chove bem forte, e ela
mal se comove com a
minha falta de sorte,
quando entediada, torna
à abrir sua caixinha
repleta de simpatias
endereçadas à si,
lembranças de olhares,
canduras de beijos,
pomares de desejos,
e não pode nascer uma
flor que seja, em mim,
anos que não consigo
chorar, acho que a
última carta que escrevi
deve estar semi-amarela,
despedaço, desmorono,
e ela...sorri.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Sem previsões



















A translúcida luz da manhã
sob a porta, córregos de folhas
mortas escorrem de olhos cada
vez mais sófregos, o brilho
opaco ocasionado pelas cinzas
da quarta-feira, uma árvore
de galhos secos à beira da vida,
o término do carnaval no quintal
do meu mundo, o céu incolor sobre
o poeta indolor, as dores da falta
sofridas por segundo, a querida
imaginária, e seus vícios de solidão,
à espera de amores fictícios futuros,
sim, ali sou eu, uma espécie de Romeu
retraído, caído do outro lado do muro...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pelo poder da visibilidade
















Colibri, abri as janelas
da alma, acordei com uma
estranha calma de estar
sem muita vontade de viver,
hoje cê nem veio me ver, por
conta da chuva, acho, mas lá
pelas dez parou de chover, bem,
pelo menos lá fora porque não
há hora certa pro mal tempo
aqui dentro, nesse meu inverno
interminável, o homem invisível
não deveria ser invencível, ou
impermeável? Bem que eu poderia
inventar uma destinatária, daquelas
mais solitárias, só pela doce sensação
de ter uma carta de amor recebida
sem desdém, imaginar reações de
puro lisonjeio, seja como for, hoje
descobri que aquele beija-flor que
não veio não era meu, na verdade,
tão, tão imensa cidade, e eu sequer
tenho um colibri...