segunda-feira, 27 de abril de 2020

O que se perdeu, perdido ficou



Ah, sorte, oxalá um dia me queiras, fazem já alguns anos e pra ser mais honesto, minha vida inteira, sob tão bonito céu insensível, eu, invisível e previsível, à solidão há muito, muito fadado, às vezes a vida é mesmo um saco, cá à espera de novas sensações, quem dera ao menos um soco bem dado, no caminho uma escassez de candura, no espelho o reflexo de um palhaço sem pintura e falso nariz, foi quando partiste a última vez que fui feliz, lembro da época, meu pobre peito quase não aguenta, mas enfim a calmaria após tempos de tormenta, incertezas já não maltratam mais, o meu coração, cara, ele é um veículo em movimento e todas as tuas nítidas lembranças e pseudo sentimentos agora não passam de paisagens ficando pra trás...

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Na rua choveu, no peito ensolarou...





Andarilho, andarilho, sem amores, nem gatilhos, como de praxe, falando sozinho sob a chuva gentil, ninguém viu, uma avenida de lamentos e queixas não ouvidas que percorri, sorri com a pele eriçada, excitado pela vida e mais nada, pisando em poças e fé na oração afim de que possa nunca mais ser achado por quem um dia me deu aquele velho "perdido" no coração, a roupa velha, a barba espessa, à vista de tantos só mais um maltrapilho, agora voltando pra casa insanamente sorrindo em minha grata "insignificância", andarilho, andarilho...

sábado, 18 de abril de 2020

Felizmente frio...



Dançou e sorriu em par com  o orvalho, ele, o verde, vede as gotas entre as folhas e a solidão por única escolha, lamento, isolamento, dobrei a esquina e me deparei com uma vida inóspita e frágil, saudades nas janelas e vitrines, eu sou um rosto do passado, um fragmento de filme, o estranho sob a chuva da manhã cinza assobiando em meio à umidade, ninguém mais pra pensar estupidamente além da conta, hoje não há esperas na cidade, cá sobrevivendo e segurando as pontas, não, porra, eu não desisti do amor, frio, felizmente frio e não menos disposto ao vindouro calor...

segunda-feira, 13 de abril de 2020

O tolo da tarde





Sonhos vão, sonhos vãos, pra onde foram meus sorrisos sãos? Arde a tarde amarelada sobre a ponte, eu sou um tolo se equilibrando na linha do horizonte,  sem mais aflições ou novidades, sem graça, a tristeza que minha boca não disfarça pelo entardecer da cidade, olha aqui meu semblante conformado na 3x4 da identidade, ah, aquele rosto que presumi "gentil", sorte, outra vez mudaste a direção e fingiu que não me viu, ó incansável esperança, novamente me conduza na valsinha do "dispensável" pelo vazio salão, tortas e portas na cara, ai de mim que sou coração!

sábado, 11 de abril de 2020

O branco...


O branco dos olhos, o branco do quarto, solidão, cotidiana solidão e continua o nascer do sol "quadrado", às paredes suspiros e sorrisos bobos, às paredes meu diário, no coração um suicida, um incendiário em potencial, dia após dia uma batalha, para cada dia o seu mal, ser ou não se, será? Reconheço meus limites, do abismo não me verás à beira, não, né besteira não, já estive lá e ele maliciosamente me sorriu num astuto convite ao salto, a vida, cara, ela é um prédio muito, muito alto, do qual não se pode ver o topo, torço por ti, torço por mim e assim fujamos pela nossa vida até encontrar o amor na estranha estrada de abrolhos, o futuro? O branco do quarto, o branco dos olhos...

sábado, 4 de abril de 2020

Dura espera



Versos do cão sem dono, foi sonhando acordado com a volta de dias amenos que peguei no sono e de repente me vi estarrecido pela espetacular visão de paz, braços e mais braços abertos de todos os credos, cores e sexos, não, não eram simples abraços, eram amplexos, era um choro e alívio de riso bom, o tão sonhado fim de um triste conto, simultâneos corações na dura espera de reencontros, despertei eufórico, era eu mais um dos tantos pela cidade morto de saudade, corri pra janela e vi que as ruas permaneciam em abandono, o blues da reclusão, versos do cão sem dono...