quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Paisagem





Pensamentos negros, várias formas de te ver morrer,
te assistir nos teus momentos finais e rir, eu quis partir,
mas sabia que irias por onde quer que eu vá, olha quem
vem lá quando me via assim tão só, o sol; crianças de colo
cedinho por toda a praça, ontem uma vadia mal amada me
chamou "arrogante", um misto de ódio e dó, mas mesmo assim
meu peito não disfarça o encanto que encontro na inocência dos
pequeninos sob um honesto céu de parque, amores novos e despedidas
nos portões de embarque, lindo dia sem tê-la, mas a cada volta, prazer
em revê-la, e continuam os pensamentos negros, várias formas de te 
ver morrer esquecida na escuridão, sorrir ao assistir os momentos finais
...da solidão

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Voltar a ser anônimo...





O mar pesado e cinza, lamentos, sem ti ainda não pude 
clarear por dentro, maré alta, falta, o fim de tarde nublado, 
sem você ao lado não consegui voltar a estar de pé, ferido, 
rastejando por lugares ermos da cidade, caído pelo chão da 
insanidade, sons de sorrisos teus e canções que lembram você,
cirandando minha mente conturbada, meu peito, lar desfeito 
em abandono, cão sem dono, nada vezes nada e diminuindo 
neste lindo domingo invernal, encolhendo até não poder ser 
notado, de trás do saleiro estive à te observar  o tempo inteiro 
escondido na mesa da tua sala de jantar, trazendo à memória 
aqueles doces dias ilusórios em que parecias querer ficar, tenho 
quase certeza que teu pensar não me cabe, alma em farrapos, mas 
te escrevo versos em guardanapos, uma pena que não sabes...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Banho de mar





O sol na água e sal na pele,
mágoas do quanto a vida me fere
e me deixo cair, enquanto alguns
querem mesmo é sumir, dores e corpos
um dia desapareceram lá, travessias a
nado, um barco no horizonte à velejar;
pela areia da praia, a saia rodopia no
doce bailar da solidão aos olhos de gente
se sentindo insignificante, pessoas com o
peito rasgando de recordações que precisam
ser apagadas, amores que se foram, restando
somente as pegadas, arde a tarde e foi sob os
rigores do frio do vazio que me vi sem lar, tamanho
o desamparo, o coração ainda cheio de um raro
sentir, mas ante o desespero de não me angustiar
outra vez por não tê-la aqui foi que me deixei cair
...no mar...

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Em terra de cego estereótipos são porra nenhuma!






Agora são tempos mais maduros,
os dias são escuros e as noites são
imersas em total brancura de neve,
leve meus sentidos onde a simpatia
reside, na maioria das vezes a beleza 
exterior apenas divide; tateando o mundo
senti corpos ocos sem corações profundos
e já não me interessavam fotografias, sequer
anatomias, admirei o formato da real bondade,
encantei-me com o cheiro agradável da singeleza
escondida pela cidade, a mera beleza física agora
me era supérflua, limitada à sorrisos de dentes à
mostra e curvas, foda-se tudo que se define belo
até aonde a vista alcança, a minh'alma descansa
em saber que todo ser humano é lindo sob a chuva...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Ser estranho...





Cinco e pouco da manhã, frustração de uma espera vã, 
cena tola de amor primaveril em um filme na televisão, 
o tédio de um dia invernal, ruas úmidas, olhos úmidos, 
a cidade encharcada e nada de novidade sob a escuridão 
das nuvens de chuva, doce é a imaginação de gente sendo
salva por uma ligação que seja, um sinal, uma resposta aos
meses de sofrida saudade, as boas energias que nos fazem
vencer a nostalgia, ah se todos soubessem como a falta dói,
ah, se ela pudesse entender que a sua volta seria bem mais
importante que qualquer pedido de socorro atendido por
super heróis, droga, lá vem o carnaval, ruas úmidas, olhos
úmidos, o tédio de um dia invernal...

sábado, 4 de fevereiro de 2017

O que sempre fui...






Oh, minhas tristes noites em preto e branco, 
do outro lado da avenida eu vejo cores, aqui 
do meu relento vejo gente deliberadamente
oferecendo abrigos, nem inimigos, nem amores
no vazio do meu caminho, a última vez que me
perdi em alguém, me sentia encolhendo por conta
dos desdéns, é, acho que a vida deve estar melhorando,
das outras vezes sentia-me mesmo era invisível, me fodendo e
infelizmente cada vez mais sensível, maldita vocação para tolo
que nasci, não tive alternativa, que vontade imensa de morrer 
de rir sob uma chuva corrosiva, descer pelo ralo do mundo e 
nunca mais voltar a ser profundo, iniciar uma matança em 
massa, fodam-se os fúteis da terra e sua "infinita" alegria 
que tanto me irrita, mas é que não há inimigos, nem amores
pelo vazio do meu caminho, triste vida minha em preto e branco, 
da solidão desse banco de praça, meu olhar não disfarça o penar, 
olha lá, olha lá, do outro lado da avenida eu vejo cores...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Notas de um sequestro





O reflexo do semáforo no asfalto úmido, 
a chuva da madrugada deixou a cidade 
melancolicamente embelezada, e sentia-me 
cada vez mais feio, olhos cheios de frustração 
e rancor, naquela bela manhã do meio da semana 
eu era o raptor...pus uma mordaça, mas não fiz
ameaças, só deixava desaguar toda a tristeza que
havia em mim, protestava contra o desprezo, por
dar-me as costas e nunca sair do caminho dos que
já sobejavam alegria, e mesmo com as amarras, ainda
assim ela ria do quão patético eu era, da minha exclusão
da primavera e do vazio de eterno inverno; apontava-me,
zombando de tantos anos sem ter uma querida, cuspia no
meu rosto e me desejava a morte, ah, catastrófico dia em
que eu quis forçar a sorte à entrar na minha vida!