quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Notas de um sequestro
O reflexo do semáforo no asfalto úmido,
a chuva da madrugada deixou a cidade
melancolicamente embelezada, e sentia-me
cada vez mais feio, olhos cheios de frustração
e rancor, naquela bela manhã do meio da semana
eu era o raptor...pus uma mordaça, mas não fiz
ameaças, só deixava desaguar toda a tristeza que
havia em mim, protestava contra o desprezo, por
dar-me as costas e nunca sair do caminho dos que
já sobejavam alegria, e mesmo com as amarras, ainda
assim ela ria do quão patético eu era, da minha exclusão
da primavera e do vazio de eterno inverno; apontava-me,
zombando de tantos anos sem ter uma querida, cuspia no
meu rosto e me desejava a morte, ah, catastrófico dia em
que eu quis forçar a sorte à entrar na minha vida!
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