quinta-feira, 26 de abril de 2012

Rosto na vitrine




 Tenho andado só pelo espaço,
o mundo é uma vitrine de vidro
resistente, e eu aqui fora, em
meio ao fracasso de não ter
conseguido entrar novamente,
parafraseio Lennon na calçada
do universo, "imagine" nunca
mais ter o coração partido em
meus versos, mais recheio em
tortas de maçã e menos receio
sobre o amanhã, e os dias vão
amanhecendo, eu sempre esquecendo
de mim, exemplo de como não ser,
abro os olhos, falta bem pouco pra
escurecer, uma vez mais desperto
menos esperto do transe, outro ano
perdido sem ter aprendido à amar;
na mente os resquícios de romances
desfeitos, aviso aos imperfeitos:
Lá vem de novo, ilusão! Com jeito
simplório, canto, bato palma sob um
céu meio contraditório, mas não
consigo ter calma, ela...ela sorriu
pra mim! Sonho, pego na mão, e vôo
alto, acordo só, em queda livre, a
triste visão do mar em declive, e
antes de me espatifar no chão da
frustração ainda te chamo, e seu
ninguém me pode ouvir aqui dentro,
quando penso:"EU NÃO ME AMO!"

segunda-feira, 16 de abril de 2012

E eis um indigente!




















O sem valor, alguns o chamam
moribundo, dorme o dia quase
todo às portas trancadas de vários
corações do mundo, morreu pra si
há alguns anos atrás, e se um dia
teve mãe, e 'té mesmo vivente, nem
lembra mais; distúrbios no céu da
mente, em meio ao caos de clarões
de relampejar o fazem chorar, o
maldito costume de escuridões, e
sem mais previsões do sol raiar,
traços tortos de memória do indivíduo
sem estória, monossílabos, desdéns e
rejeição, por conta das coisas feitas
pelo coração, para cada a devida mera
educação, e sequer pode tocar as mãos
dela, pintou todo o globo ocular de preto,
atirando todos os seus versos pela janela
da alma no breu do universo, hoje em dia
põe-se à aprender à morrer com calma.

sábado, 14 de abril de 2012

Desaparecido cada vez menos parecido












Há um menino no mundo
com uma nova feição à cada
aparição, desaparece quando
seu corpo desfalece de tristeza,
jaz sob a mesa, aos pés do acaso,
no banquete dos céus, pra não
ser alcançado pelo sol;
lá embaixo existe uma passagem
secreta que dará em uma gruta
bem no meio do oceano, salvo de
enganos, e disposto à dormir pra
sempre, acorda à contra-gosto
pra tornar à viver, ninguém o
pode ver, onde a luz não alcança,
e a natureza descansa os olhos,
tendo-o longe da vista, talvez até
nem insista mais no amor, talvez
preste um grande favor ao dia,
tomando a porção da invisibilidade,
tentar se conformar em ser só mais
uma sombra na escuridão da cidade,
anda cansado de tanto sincronismo
barato, de viver à deparar-se em
cada esquina com aquela moça
chamada mediocridade, de olhar
sempre alerta, e o menino do mundo
nunca chega na hora certa...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Paz de devanear















Tartaruguinha à caminho do mar,
a calma diária, a paz da imobilidade
voluntária em sua casa móvel, de vagarosas
patinhas contentes, e bem melhor que muita
gente; em outra extremidade da praia, pegadas
graciosas na areia morna, morena saindo d'água,
o vento aperreia os cabelos negros dela, sonha
em deixar mágoas à deriva, e suas inquietações
de janela, o azul do céu contrasta com o estado
"blue" da moça que se afasta do mundo, enquanto
lava louça, se esconde com a alma longe, anseia
por um "farelinho" que seja de primavera, talvez
até dançar nua em alguma cratera da lua, mas
com o peito cheio de imaginação, vôou até o
oceano, voltou com as asas encharcadas de
planos, serenidades e verão...noite...tudo que
ela deseja agora é a total ausência de luz, mas
nem bem trevas, é só para o descanso dos olhos,
quando o pobre amante chega manso, e a beija
com a mesma inocência que a cobre, a pele
arrepia sempre que cantarola "João e Maria"
bem baixinho ao ouvido dela, e segue a prece:
"Dorme, vida, que eu esqueço meu coração
partido, choveu, meu amor adormeceu."

*João e Maria- Chico Buarque

sábado, 7 de abril de 2012

Vontade
















Enche que nem balão, coração,
e eu nem sei por que ainda teimo
em andar por aí com o peito
desnudo, posto que aonde quer
que eu vá, hei de encontrar pessoas
com objetos pontiagudos à mão, e
o que me resta, há um pessoalzinho
aí que detesta, e mesmo assim vive
sem proteção; por Deus, como eu
não o queria como mero enfeite,
à mercê da dor, entre os pregos,
agulhas e alfinetes desse mundão
de tanto desamor, mas, ainda assim
enche que nem balão, coração!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Frô e preda"















Entre as rochas, uma flor...
nasceu, cresceu quase sufocada,
quase nunca regada, as poucas
gotas de quando chovia, amor
que escorria, mas o céu insistentemente
a animava, juntamente com o sol,
dizendo:"Vem com a gente numa
fotografia, sorria!"
Sou uma pedra...
das poucas que não a maltratou,
muito pelo contrário, brotou de
uma fenda em mim, assim como
enfeitaste meu pobre cinza, ainda
ontem os rigores do tempo sobre
minha pele nada macia, mas é
fato, de suaves à ventos tempestuosos,
maltratos; certo dia, alguma ave
de verão lançou sobre nós o pozinho
da simplicidade, fez-se vida, nos
tornamos gente da cidade, e era
eu, então, uma criança sem rumo,
sozinho em alguma calçada, mas
eis que a querida morena enluarada
deu-me a mão, cabelos cor de noite,
de irresisíveis maçãs do rosto, que
tive que pedir licença, e desculpas,
mordi com ternura, tua doçura
tem a medida certa de todas as
atenções que eu sempre quis, e se
não muito me atrevo, ouso dizer,
aliás, escrevo...feliz em te ter!