terça-feira, 10 de abril de 2012

Paz de devanear















Tartaruguinha à caminho do mar,
a calma diária, a paz da imobilidade
voluntária em sua casa móvel, de vagarosas
patinhas contentes, e bem melhor que muita
gente; em outra extremidade da praia, pegadas
graciosas na areia morna, morena saindo d'água,
o vento aperreia os cabelos negros dela, sonha
em deixar mágoas à deriva, e suas inquietações
de janela, o azul do céu contrasta com o estado
"blue" da moça que se afasta do mundo, enquanto
lava louça, se esconde com a alma longe, anseia
por um "farelinho" que seja de primavera, talvez
até dançar nua em alguma cratera da lua, mas
com o peito cheio de imaginação, vôou até o
oceano, voltou com as asas encharcadas de
planos, serenidades e verão...noite...tudo que
ela deseja agora é a total ausência de luz, mas
nem bem trevas, é só para o descanso dos olhos,
quando o pobre amante chega manso, e a beija
com a mesma inocência que a cobre, a pele
arrepia sempre que cantarola "João e Maria"
bem baixinho ao ouvido dela, e segue a prece:
"Dorme, vida, que eu esqueço meu coração
partido, choveu, meu amor adormeceu."

*João e Maria- Chico Buarque

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