segunda-feira, 30 de março de 2020

Doces encontros no pensar



Solitário vôo noturno, ah, ela, bela entediada, deitada em seu isolamento daqui a vejo através da janela e nada mais poderia querer nessa hora além de afagos, minha fantasia, ela é um baseado que trago em dia chuvoso, devaneios vários, olhos perdidos e entorpecidos sorrisos involuntários, amantes de pijamas, os dias viram semanas nesse cômodo vazio, nossos olhares cruzam a cidade de quarto a quarto, a imaginação do calor das tuas mãos me dá coragem pra levantar da rede, fome e sede de afeto, na madrugada encaro o teto e outra vez resolvo planar pelo céu escuro, te visitar, não, não resisti e mesmo sem toque, fui ao menos te olhar da rua, serena e preguiçosamente despida em sua cama na lua, não, não resisti, outra vez pensei em ti...

sexta-feira, 27 de março de 2020

Tempos virais...



Distanciamento, o mar que não vimos ao entardecer, a flor que não assistimos desabrochar, vais chorar, vai chover? Chove, maRchove sob tetos em olhos confinados, a saudade e o tédio caminham lado a lado, o mundo pela janela ou tela de celular, tempos modernos de invernal inferno, hora dobra, tempo rola, coração se isola e ainda mais esse tempo bipolar, de repente o pleno e limpo azul,oxalá asas, olha que dia mais que perfeito pra estar em casa, "nunca mais te vi, nunca mais", tempos virais....

segunda-feira, 23 de março de 2020

O que de belo brota nos confinamentos


A opacidade do sol, a beleza agora em desfoque, do meu quarto cinza vejo o mundo amando mesmo sem toque, quanto mais esfriam os dias, mais e mais inflamam os corações, orações, expectativas, expectativas e mais orações pela volta de tempos amenos, ó quanta saudade da liberdade, a cortante falta de estar sereno, ciclovias vazias, me apego à nostalgias, eu sou a flor que restou nesse outrora honesto jardim, aqui chove de dentro pra fora e assim não surto e cresço no confinamento, o tempo voa, já há muito só e as esperanças desmedidas de voltar estar à toa ao sol...

sexta-feira, 20 de março de 2020

Visão de uma queda



Ensolarado passado, sorrisos novos, sorrisos novos, coração em ascensão, voando, voando, me pus então à planar, as cores da tarde, a quietude da noite, tudo, tudo pra mim, triste ingenuidade, enganoso sabor de "eterno", era pleno inverno quando fui traído, o belo cenário havia desaparecido e me vi no vácuo de um esquecimento, as chuvas bem mais espessas aqui dentro, chovendo e chovendo, caindo, caindo, meses caindo até um belo dia me entediar e violar a gravidade, fodido, mas já nem tanto assim e ilógico, naquele dia eu parei de cair e pairei sobre a cidade, lá embaixo corações e avenidas vazias, aqui em cima já não havia lugar para tristeza ou incertezas, paz interior, pacífica visão panorâmica oceânica

quarta-feira, 18 de março de 2020

Sal na pele, beijos de brisa




Cegante e castigante sol sorridente, a doida dança do caos pelo mundo e desta vez escolhi não chorar, a brisa que bagunça os cabelos do pares, suavemente me sopra ao ouvido "Acabou, chorare", fugi pro mar, o calçadão, a ciclovia, já eram mais de anos que não a via e finalmente estava em paz com isso, me sentia o anjo do sumiço, o som das ondas, a luz da bossa sobre a gente e as bicicletas seguiam em frente, fortíssima alusão à vida, vida de tantos "ais" e "Se's", dia lindo, estufei o peito, lembrando de todo o engano disfarçado de amor no meu caminho...FODA-SE!

domingo, 15 de março de 2020

Lembra dele?



Ah, chuva, chuva fria que traz nostalgias do que há muito já não é, olhares perdidos às janelas na vida úmida lá fora, Smiths na trilha sonora nos fones de mais um sem fé e pesarosamente penso, olhando pra trás em todos esses anos, em meus devaneios eu nunca venço, tristes danças e tolas lembranças, entorpecidamente levado pela correnteza no caudaloso rio de ilusão, sonhos vãos, sonhos vãos são tudo o que me têm restado e as paisagens urbanas não param de mudar pela cidade, sei lá, talvez em um ou outro coração virei saudade, no mais sou reles passado!

terça-feira, 10 de março de 2020

Enganos...



Ah, vida, pensando ser vida, até nossos últimos dias vivemos essa incerteza desmedida, juras e mais juras, olhos brilhantes e outros fatos, teatro, toda esta merda pra descobrir que não passava de mais um teatro barato, na areia da praia desaparecem nossos passos, o céu, o sol, a lua testificam nossos fracassos e de peito escancarado me declaro ridículo, por demais crédulo, ante o amor, não, não sou mesmo astuto, esperto, vejo a vida acontecendo ao redor, os jardins, as flores na janela e ainda creio que o amor é uma extensão de toda essa beleza de inocência muda, ah, como muda, tanta coisa muda, as rotas, os rumos mudam e os sonhadores que se fodam!

quarta-feira, 4 de março de 2020

"Embicicletado enchuvarando"....



Tempos e tempos sem amar, ao longe o mar...ao longo do caminho olhares desesperançosos que me deparei, despetalada, chorei ao ver uma rosa só com remanescentes espinhos, feridos, ouvi gemidos de peitos feridos pela avenida da desilusão, sob um céu de escuridão haviam gritos silenciosos, haviam tantos e mais tantos querendo férias prolongadas do coração; nesse momento estou na pista enquanto amores se transtornam, cá sem atenções especiais ou abraços novos que transformam, eu sou apenas um pobre cronista em meio a preces de ânimo aos interiormente fadigados e que de mim nunca mais lembre quem agora me esquece, ares de infância, voltei a ser anônimo, o rei da distância seguindo calmamente a estranha estrada sem curvas, o vazio nunca me abandona, a solidão nunca deixa de ser minha dona e ainda assim sem motivos aparentes sorrindo, seguindo sem pressa na minha velha bicicleta sob a espessa chuva...