sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Clube dos deixados na velha merda






Tempo ao tempo, para deixar pra trás toda e
qualquer memória ruim, pra driblar os contratempos
das sequelas de cada fim; oh admirável fôlego de vida,
uma silhueta me observa e isso me inquieta enquanto vejo
gente através das vitrines tendo bastante, volto à sentir-me
dispensável, o que era sentido de viver agora não passa de
incômodo, existe um pequeno cômodo nas noites de sexta
onde os bestas sem ninguém se reúnem para ser miseráveis
em paz, amigos de mágoas na companhia da velha aliada chamada
solidão, não há sorte, nem figa, só um pendrive de oito gigas pra fazer
a trilha sonora da desesperança, um computador de monitor "tubão",
e se cá estamos, fodidos unidos, nada como o melhor sorriso dela como
proteção de tela, pôrra, cada vez que eu olho, me acabo, aqui dentro tá
chovendo demais, a tristeza escorre pelo chão da estúpida cidade festiva,
mas o céu lá fora tá simplesmente bárbaro!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Aquela que te faz dar meia volta, aquela que faz querer viver bem mais





Pois é, aquele ali sou eu em frente ao espelho
com cara de poucos amores, na falta de grana
para novas tatuagens compenso com outras dores,
o vazio invade e eu começo à achar graça, cortes
de barbeador, sob o chuveiro minha cabeça arde...
massa! Uma caixinha cheínha de desdéns, débil
timidez, outra vez a alegria dos olhos morre ao
lembrar daquela blusa escrita "I'm Not Sorry",
um dia uma menina me disse que era até bonito,
já a outra lá chamou meu coração de "espelunca",
pensei com carinho naquela moça com a baby-look
do Canto dos Malditos na Terra do Nunca, me fez
lembrar do cheiro de orvalho, tinha cara de chata
pra caralho, mas descobri à duras penas que ela não
era apenas uma garota bonita idiota, quem dera fosse,
não, ela era simplesmente um doce de pessoa, gente boa
demais no seu jeito estranho de ser, tão nova e com ares
de vivida, do tipo que a gente se atreve à chamar "Mulher
da vida", saca, um riso fácil, bem frágil no abraço, oh, Deus,
sei mais o que eu faço não, quando ela estava quase pra ser
minha...acabou minha imaginação.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Velhice tranquila




Olhos, cansados olhos
deste desafinado, confinado
no mundo imenso, sobre as
areias do tempo anoitecia, um céu
bonito de luar intenso pra recordar
e o mar em mim pra fazer esquecer
tudo o que me adoecia; no calçadão
casais passeando, e os anos vão passando
sem pressa entre a linha do horizonte e as
linhas de expressão do meu rosto à envelhecer,
ora, veja só você, tão jovem ainda e linda nas
minhas memórias que ainda não foram perdidas,
ora, vejam quanta gente cheia de planos para pelo
menos três vidas, sabe, às vezes penso se tudo não
passou de fruto da minha imaginação, continuo sem
muita ambição, quase sempre sozinho, sei lá, talvez
partir sorrindo num descanso após o almoço na cadeira
de balanço ao som de um calmo chorinho...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

E o menino-flor volta pra casa pedalando "despetaladamente" desolado...





Prelúdio: No reflexo do globo ocular
da fria moça o menino-flor só viu repúdio...
queria não sentir inveja das coisas que bem
funcionam aos descuidados em amor, prece
pela cidade, a graça da oportunidade, a graça
da oportunidade, a graça da oportunidade!
Era um domingo ensolarado e ele voltou
pra casa pedalando, sentindo-se despetaladamente
desolado pelos sentimentos que não podiam ser
devolvidos, sem ombros nem ouvidos para os
seus desabafos, o asfalto desabando sob os pneus
da velha bicicleta, quanta saudade de ter a coluna
ereta; elevador enguiçado, preso no segundo andar
de um buraco negro em alguma parte do espaço do
dia bom convertido em trevas, uma chuva fina escorria
pela calha do canto do olho, havia goteiras por toda
aquela arruinada casa-coração, e a menina má mantinha
seus disfarces com suas muitas faces em máscaras de bondade
e doçura por aí à veranear, fingindo gostar ela atua, enquanto
isso pelo mar uma pobre pétala isolada flutua...

sábado, 10 de janeiro de 2015

Dia lúcido





Sem café, cigarros ou pílula alguma,
acordei muito cedo, dividindo a beliche
com o medo que ainda dormitava aquelas
horas, as mãos em volta do pescoço em
suave estrangulamento, os olhos cheios de
lamento, entre o desassossego e as falsas
promessas de desapego estava em protesto
contra meu eu mais ingênuo, naquele dia monótono
me dei à um monologo; acordei em meio às amargas
memórias de andarilho, lembrando das incontáveis
vezes que prestei-me ao débil papel de suposto
resgatador de corações feridos, os mesmos que
não me deixaram entrar quando sarados, e restando
como de praxe aquela velha aceitação, em um ode
à insatisfação raspei toda a cabeça afim de afugentar,
querendo o máximo de desistências de atenções da
minha existência, naquele dia eu descobri que não era
impossível tornar-me invisível, era só desistir de tentar
cativar, lembrei do meu local favorito de retiro após cada
rejeição e novamente fui lá, a própria tristeza em caricatura,
naquele dia tranquilo finque uma bandeira em algum lugar no
fundo do mar, e enquanto isso o cheiro bom de chuva subia
em frente à floricultura...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Bem de alguém


Insólita aventura 
do platônico supersônico
montado em seu colibri de 
estimação, após mil e tantos 
remendos no peito, outra vez
dá-se um jeito e agora sobrevoa 
o espaço sideral mental daquela 
bela estranha, a dura missão de
invadir um coração semicerrado,
declarou o inoperante errante:
"Tempo e jeito errado, show de
horrores sentimentais, meus supostos
amores da vida sob la bella luna se
resumem à meras solidões divididas
e mais porríssima nenhuma!"