quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Descolore!

Imagine todo o filme  
da sua vida passando 
diante de uma vitrine; 
agora olhe lá do outro 
lado da rua, veja aquela 
figura esguia, quem quer
que seja, vagando sem guia, 
divagando enquanto encara 
à si mesma no reflexo da vidraça 
da loja, versos sobre a pobre garota 
do jeans sujo, cujo o dia inteiro foi visto 
num flash de segundos, quanta gente só 
no mundo, quantos gritos silenciosos ecoando 
em peitos vazios e dilacerados, cômodos de casas 
abandonadas no coração dos desafortunados, 
solitários lábios de sorrisos bobos, e a lembrança 
de todas as palavras bonitas proferidas à toa, voa 
tempo, vida desmorona, triste em saber, nesse exato 
momento tem alguém sendo deixado de lado...

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Estando chovendo, tendo chovido

O relento, litoral choroso,
passos lentos nas poças d'água, 
mágoas debaixo do temporal; 
do lado de cá, cinza e granizo,
eu vejo sorrisos na calçada da
frente, vejo gente contente ignorando
a minha existência, aparências à perder
de vista, eu tô na lista dos não-convidados
pro céu das pessoas interessantes, estou
pensando seriamente em fundar o clubinho
dos meninos não-cativantes, vida feliz, perdoa
as merdas que teu filho diz, e por não ser tão 
efusivo assim, faz frio, contrario João, "Impossível
ser feliz sozinho", mas eu sou vizinho do sr. lamento,
o relento, dia chuvoso e melancolia atemporal, litoral 
choroso...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Caprichado mal-me-quer!



Pétalas ao chão, pétalas ao chão;
punindo flores em prol da tua descompaixão,
o sobrenome da tristeza é Dolores, e eis que 
o estúpido cupido acertou em cheio seu coração, 
e ela até então me ama descompassadamente, sou 
pra ela uma espécie de amuleto, uma ameixa seca
em sua bolsa à tiracolo, diz que não me deixa, não
importa se choro, sou seu perdido preferido, e à cada 
corte no peito, uma injeção de má sorte, torno à si, 
assim, meio sem jeito, lá se vai mais um dia e outra 
vez escurece, tento apreço que me tens que me adoece, 
tombo à cada esquina da vida, e curiosamente ninguém
se aproxima. Quando estou prestes à ser bem visto, transforma 
as roupas que eu visto em pele de réptil, à mim pertence o pior 
amor do mundo, me esconde em um poço profundo sob mesas de 
estranhas cozinhas, sou dela e a tristeza é minha, não posso ser 
tocado, nem ter ninguém sentado ao meu lado por muito tempo,
tenho vagado pelo espaço e aliviado meu cansaço em um colchão 
suspenso num buraco negro, sófrego cativo da tua descompaixão 
em flores de mal-me-quer, pétalas ao chão, pétalas ao chão, e nem
um olhar sequer...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Blues do cuspe

 
Peles rejeitadas,
pétalas de frágeis
flores pelo chão da
rejeição, uma chuva
ácida sobre amantes
falidos, falecido amor
de milhares, palavras
doces esquecidas, pomares
de frutas apodrecidas, "O que
eu te fiz?", pergunta o pobre
palhaço de nariz quebrado em 
um choque com tua endurecida
máscara sorridente, minha presença
de deixa doente, minha pobreza lhe
chega como desavença, tua pouca
nobreza é um cigarro de má intenção
apagado no mousse que eu te trouxe, 
ah se eu fosse próspero pra poder ter 
tua real atenção nesse meu mundinho 
inóspito, um chute nas lindas lanternas 
de jardim, um cuspe em mim, pôxa, como 
és indigna das minhas tolas rimas e coisas 
de orvalho, tava escuro, olhei o muro, "Mais 
amor, por favor" é o caralho!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Inocente cartaz

Debruçado sobre a cartolina
no chão do espaço, me pus à
lembrar da delicadeza daqueles
simples traços, sempre quis tocar 
o arco-íris, e eis que ali vem novamente
aquela menina tranquila com cheirinho 
de chuva, de braços dados com a neblina 
e aquele suave abraço-abrigo, sigo os rastros 
dela na esperança de um dia ver seu rosto, sei lá, 
tenho a leve impressão que teu sentir é exatamente 
o oposto do meu gostar, mas vamos lá, né; lamento,
tanta estupidez, o pensamento perdido na delicadeza
da tua fragilidade sob as agruras da fria cidade, e
mesmo sendo eu estereotipadamente desafortunado,
e tendo quase tudo contra, a imensa vontade de tomar
conta, letras grandes e coloridas, tanto tempo e tantos
contratempos, lembrei e sorri, hoje nem lembro mais o
que foi que te escrevi...


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O fantasma dos fins-de-semana passados

Fui um solitário rapper otário,
odiado pela ostentação, em sublime
matrimônio com a frustração; as belas
peles versus tigres tristes dos meus versos,
perdido num mundo de tanta beleza, o feio
se indagava por quê veio, cantava a tristeza,
morreu de incerteza! Nos últimos anos tenho
vagado nas horas vazias de quem me esquecia,
uma má lembrança, o terror de todo fingimento,
hoje em dia sou apenas constrangimento, o brilho
 trágico do meu olhar nostálgico nas alturas do céu
da tua boca, te deixas louca a amarga recordação de
mim na programação infantil da TV Cultura, à cada
desprezo teu e à cada fim de dias ali estarei afim de 
sempre te trazer à tona os doces que te dediquei, meu
rosto entre teus restos, nas memórias mais insignificantes,
eu vou irromper tua madrugada por alguns instantes,
berrar na tua mente minhas antigas intenções, eu sou 
uma música chata e insistente, sou teu único amor inexistente!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Suquinho...

Ai de mim e minhas pobres
doces intenções versus aquele
olhar frio, as ruas de gelo fino
que piso sempre que ela atravessa
minhas imaginações, me esquece dentro
da minha própria cabeça, cruza comigo
na esquina do meu sonhar e finge que não
conhece, me devora enquanto ignora; mas
eu encolhi porque te escolhi, resolvi planar
num aviãozinho de papel em uma noite de
sábado afim de passar pela janela dela, vi
ali uma menina tão só com seu lanche, era
um pouco maior que um grão de pó, mergulhei
na tua vitamina, com tristeza ela me engolia,
deslizava na tua garganta sorrindo, fazendo
parte de ti, uma confusão de letras, adormeci
sobre uma carta inacabada, sonhei que você
me bebia...

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Estrago e dissabor

Cacos de fiasco,
o estrago de cascos 
vazios de toda dor
consumida, mas o 
que se pode fazer,
desprazer, por favor,
não fique, essa é a minha 
vida; um trago amargo da
noite em mim e o céu ficou 
assim do jeito que eu digo, 
meio chumbo e trigo, puramente
melancólico sobre  um reles dia 
de alto teor alcólico, eu sou a bituca 
dum cigrarro diferente num chão de
um parque qualquer, sou o finzinho do 
cigarro que passou por lábios de gente
desprezada e sem fé, fumaça e cinzas de
mim, sim, sou eu sim, o fim...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

"Pratrásmente"...



Milhas de distância da atenção dela,
da euforia à melancolia em tão pouco 
tempo, como a gente ria, como tudo 
parecia tão nosso, como doem meus 
ossos, pôrra, como dói uma injeção 
de rejeição! Um ônibus sem passageiros,
uma vasta estrada, alguns meses, eu
vezes nada, nenhum veículo para pra
mim, um miserável caroneiro com seu
jeans desbotado, a barba espessa, tristezas
e afins, caminhando sem muita pressa
pra tentar alcançar o teu entusiasmo
novamente, sou gente virando bicho,
sou uma flor que brotou na lata de lixo,
esqueci meu nome, só lembro que tenho
muita fome de amor...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Aquele triste ser amarelo e o universo paralelo...






Ó infeliz alma invernal!
Assim, do nada, sopra o
vento, o céu da boca se 
comove e chove aqui dentro 
em plena tarde ensolarada;
uma visão panorâmica de
entristecer, olha aquele triste
ser amarelo à procura de um
universo paralelo, aquele ali
sou eu vagarosamente vagando
com uma idéia fixa de distância
na mente, os prédios, os automóveis
semi-novos, as baratas, tanto tédio, 
qual a relação da lua com a minha 
rua chata? Meu tênis surrado, teu
nome sussurrado com insistência
nas minhas memórias, no auge da
minha desistência, eu quero te esquecer,
quero é pôrra, não, não tem previsão, mas
acho que o menino bobo enfim conseguiu
trapacear o destino, e deixou-se cair num
mar de calmaria, sem nada esperar, descobri
um dia bom, ei, olha a porta de giz que eu fiz!