segunda-feira, 13 de junho de 2016

Infelizes anos, últimos instantes de glória




Seu nome era "vergonha alheia", leia na lápide
o epitáfio, a história de um homem tornado cão,
dez anos desperdiçados de maldição com sua alma
ainda humana, de tempos em tempos falando de amor
à muita gente estranha, mas não havia quem prestasse
atenção porque a voz não acompanhava seus pensamentos,
dormia ao relento e ninguém entendia seu choro porque ele
só latia, sempre a se entristecer em cada esquina ao ouvir
sobre grana e sentimentos numa mesma frase, tão verdejante
a grama que deitava e a rejeição o deixava cada vez mais cinza;
o sol o esqueceu, um dia ele adoeceu de falta de fé, mas aquela
estranha mulher simples com ares de anjo hippie, desprovida de
bens materiais e todo seu singular apreço por animais o acolheu
no recanto de seu colo, se pôs no lugar de um carente e o fez voltar
a ser gente, a última visão de glória antes do último suspiro, o reflexo
do azul celeste na lágrima que escorria no rosto dela e assim o sofrimento
terminava, não havia mais espaço para fingimentos de dó, nem máscaras
de pessoas doces ao redor, partia com a bonita certeza que alguém enfim
se importava...

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