sábado, 27 de março de 2021

Os otários também amam, os otários também dançam...

 


Dancei, doida e livremente, livre e doidamente dancei por mais uma mão que eu não alcancei, mais uma mão que encolheu quando da queda quase me resgatava, lúcido e assobiando à beira do abismo, outrora já nem sabia onde estava; caía com um sorriso de falsa segurança no rosto quase se transformando em choro, era fé que desta vez não me deixariam chegar ao chão, sim, eu sou sensível, sim, eu sou coração e amor não há sem papel de tolo, era um lindo dia de honesto azul que a incerteza acinzentou, modificando o cenário e eis que subitamente choveu, sim, perdi, e daí, livre e doidamente, doida e livremente dancei como um otário...

terça-feira, 23 de março de 2021

Sendo lembrado em alguma janela por aí....


Parara o tempo, ensaio do apocalipse, era eu então a lua quando vencida pelo eclipse, de ninguém eu sou, nem mesmo meu, agora tateando o vazio em busca d'um calor de mãos, ó, mundo de escuridão, dias de breu; vida essa, vida louca, tristes tempos virais, te beijaria se uma máscara não me cobrisse a boca, porra, outra vez esqueci o que eu disse, te beijaria se você me notasse, ah, quem dera você existisse, cá falando sozinho sob uma chuva fina, discretamente chorando, mas as pessoas se ignoram, ninguém imagina, as roupas deixadas pela rua, me despi para uma plena invisibilidade, agora visto apenas em algumas lembranças de olhares distantes pelas janelas da cidade...

quinta-feira, 18 de março de 2021

Enterrado vivo...


Olhos fechados, a boca aberta em minha ira segundo o livro da sabedoria, tão, tão só, praguejando sob o sol, a multidão de vozes, a confusão de sons dos veículos, gritava mas ninguém me ouvia, o caos urbano havia anuviado minha poesia, "leve" agora parecia um sonho distante, breve foi o tempo que a paz me notou tipo um livro empoeirado, esquecido na estante, os anos passam na velocidade do mover das nuvens, é triste, eu sei, a entorpecida sensação que sentei frente ao computador há mais de dez anos atrás e nunca mais levantei...

sexta-feira, 5 de março de 2021

Soul flor...


Implosivo e explosivo, impaciente, porém vivo, ah, tu realmente não sabes por onde estive, de nadas bem entendo, esperei, esperei e nada tive, quantas vezes nada fui para quem achava que fosse "tudo", já que não pude amar-te, restou-me ser arte, nas imaginárias paredes do tempo era eu um grafite absurdo, incompreendido e quase nunca apreciado, meu nome é "lugar nenhum", uma interminável estrada, cujo o amor é um veículo bem lá na frente que nunca consigo chegar perto, à minha esquerda um canteiro, à direita um pomar, um dia eu fui uma flor na calçada, desde sempre beleza no deserto...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Cair em par com a tarde....


Pouco importa se domingo ou primavera, se jogar na deliciosa certeza de braços à espera, ainda que nunca tivesse lido, visto filmes à respeito ou mesmo ouvido falar, de alguma forma saberia que o amor existe, de quebra as canções para incrementar devaneios pra depois fazer de nós mais tristes, amor, um corpo que cai, a ilusão de poder voar sem medo algum da queda, mas lá de cima vejo braços encolhendo, olhos me "desescolhendo", eis então a realidade, tão, tão dura como a calçada em frente ao maior arranha céu da cidade, na descida vejo ainda o topo do tédio, só o chão me espera, pouco importa se domingo ou primavera, agora por obséquio deixa eu terminar de cair, aqui um peito que desilusões coleciona e para cada braço que decepciona nas minhas ingênuas esperanças de pouso....deixar partir...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

O que era verde acinzentou



Cenários inteiros feitos de pecinhas de lego que hoje o tempo desmonta, verde, onde fora verde hoje o concreto toma conta, ó, inóspito mundo meu, aqui às vezes irreconhecível, às vezes apenas desconhecido, anônimo, uma carta de amor sem pseudônimo, um figurante do filme da vida alheia, nada pra mim, sequer uma "fala", pseudo ator sem textos e tantos pretextos para um coração que a cada dia mais se cala, apenas passei ao fundo em algumas cenas, na maioria sequer apareci, tanto amor que eu tinha pra dar e quase ninguém tomou conhecimento, de vaga lembrança a pleno esquecimento em tão pouco tempo, a vida, cara, ela é um filme no qual só me foi dado uma "ponta", o meu peito era um pátio repleto de sonhos e verde, cuja a desilusão do concreto tomou de conta...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Estávamos em par no vazio, a lua e eu...

 


Azul, escuro azul, olho em volta, anoiteceu, quem será que hoje me esqueceu? Ei, olá, escuridão, se puderes não me solta, essa noite eu quero ausência de sons e luzes excessivas, efusividade hoje me nauseia, olha só que lua cheia inexpressiva, entediada, vazia por dentro, nós dois em par ao som de "Azul da cor do mar", volto pra casa sem ninguém a me esperar, apenas sorumbático, mas não tô mal, estranhos prazeres solitários, no chuveiro eu chupo minha laranjinha, Amélie Poulain atira pedrinhas no canal...