sábado, 1 de outubro de 2016

Alma obesa




Um dia ela despertou ofegante de um pesadelo, sonhou que caminhava no interior de quem se sentia inferior à respeito dela, da janela da casa abandonada não via nada além de feias flores tristes em jardins mortos, árvores de folhas secas e galhos tortos, a chuva da graça ao longe, nem uma gota sequer de amor; perdida num vale onde ecoavam palavras de rejeição e versos desprezados pairavam no ar rodeando sua cabeça confusa, "ó dor!", dizia ela no desespero de sair daquela mente problemática, mas por estar no centro das atenções daquele pobre rapaz, não era capaz de achar a saída, à beira do lago esverdeado viu aves sem vida, caminhou sobre uma imensa folha de papel amarela com todos os pensamentos escritos sobre ela, possíveis conversas e sentimentos passados fracassados, sentia o ar pesado de melancolia, quanto mais ela lia o seu nome escrito nas paredes de um peito caindo aos pedaços, mais ela queria fugir dali, via cenas de abraços projetadas pelas ruas vazias, viu um muro pichado escrito: "O que seria eu pra você?", e "Tanto tempo sendo ninguém", chorou por saber o quanto ele já tinha andado só, e mais um novo pensamento, "Quem dera pudesses sentir um pouco da angústia que é ser um nada pra ti", agora uma canção de solidão, Radiohead, Fake Plastic Trees, "Se eu pudesse ser quem você sempre desejou", e foi assim que ela acordou, um alívio por saber que toda aquela inquietação não era dela, quis sorrir, mas acabou desabando no choro, lá fora chovia e em alguma parte da cidade por ela alguém sofria...

Nenhum comentário:

Postar um comentário