sexta-feira, 29 de maio de 2015

Inalcançável





Vejam só aquele rapaz de camisa amarrotada
do outro lado da calçada, uma nuvenzinha cinza
sobre a cabeça e uma desértica ilha invisível ao redor
de si, os velhos tênis de cadarços desamarrados, a alma
em farrapos pela solidão do corpo há muito sem toque, tanto,
tanto tempo, nada pra ninguém, e o pobre coração desesperadamente
tenta acreditar que não; vazio e escuridão em plena multidão de rostos
translúcidos e ele lá torcendo pra não ser reconhecido, virou costume
sentir-se esquecido, some e torna à sumir mas não crê que darão por falta,
mesmo nunca deixando de sentir falta, só não dá pistas, não olha, não pergunta,
alheio ao mundo de tanta gente rasa quanto o mar tão profundo, de modos que
todos ao redor desistem de conhecê-lo melhor, o louco, o inconveniente e eles
nem sabem a dor que ele sente por ser assim tão incomum, implora o céu do quarto
onde pode livremente dar seu melhor sorriso triste típico dos conformados porque a
vida é de se acostumar, tranque a porta e seja bem-vindo ao refúgio dos derrotados...

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