terça-feira, 24 de março de 2015

A estranha e o perdedor




Névoas de uma manhã de domingo,
nesse exato momento ambos despertam
cada um na sua extremidade da cidade,
na falta de afeto, ainda deitada ela encara
o teto, misérias e afins, "Por que será que
ninguém vê nada em mim?", espontânea
indagação simultânea em seu olhar parado
na janela e ele nem sabe da existência dela
mas persiste na fé que alguém assim existe
e há de salvá-lo em algum desses dias frios
de desesperança, ambos solitários desde criança
sempre em segundo plano e alguns anos depois
a descoberta da triste realidade, nunca tiveram
amigos de verdade; e lá se vai mais um mês,
ela adora inglês e seriados, ele adora pedalar
ouvindo música mas detesta feriados, ambos
são anônimos, quase sinônimos, amadores, nunca
deram "bola" para suas dores pessoais, sem ninguém
ao lado, os tais fracassados, um amor platônico do outro,
não tão espertos, mas tão, tão  perto, ainda não se conhecem,
bem, talvez nunca se encontrem.

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