terça-feira, 16 de maio de 2017
Tranquilidade
O orvalho escorre nos para-brisas
dos automóveis vazios, os pássaros
de asas quase imóveis calmamente
planam no frio matutino, o sol invade
os poros das casas nas primeiras horas
da manhã, a vida pulsa no interior dos
ambientes, meninas se penteiam, meninos
escovam os dentes, olha todo mundo indo
pra escola, olha os pontos de ônibus, olha,
as folhas das árvores balançam gentilmente
com beijos de brisa no ar, o mar visto das janelas
dos transportes urbanos, hoje ela acordou com
o coração sem planos, sem grandes expectativas,
só aproveitando a alternativa que é simplesmente
viver sem ter que morrer por antecipação, doente
da alma, doendo por dentro por mais uma decepção,
sim, hoje ela despertou se sentindo maior, mesmo na
condição de mais uma na multidão, hoje ela sentiu
a importância de respirar, feliz por nada aparente,
sei lá, hoje ela sentiu uma estranha vontade de rir
assim, do nada e entendeu que isso era gratidão...
domingo, 14 de maio de 2017
Apenas ridículo...
Eu sei, é difícil, a moça é linda,
daqui eu vejo a nuvem cinza em forma
de ônibus flutuante levando a memória
restante das cores berrantes de fogos de artifício
que refletiam no teu olho, tarde desbotada, desapontado
por amores que a chuva leva, lava teu nome escrito a giz
de cera na minha calçada, luz de raio, uma foto fora de foco,
um trovão, o grito vão do céu em apelos que ela ignora, vive
de mudanças, mas acidentalmente sempre descubro aonde ela
mora, perdoa se eu sorrir, é que meu sono ainda sonha contigo,
desisto e admito, sem ti sou como um menino de castigo, chorando
sob a mesa sem direito a sobremesa, um vazio constante, açoites e
versos absurdos em consoantes...
sexta-feira, 12 de maio de 2017
Tua certeza também tem prazo de validade!
De partidas e folhas caídas pelo chão,
disso são feitos os caminhos do meu pobre coração,
e mais tolo quem me diz, achando que só falo sozinho,
parecendo infeliz, meu velho camarada mar pra poder
me confessar, falando sobre devaneios de pessoas de olhos
gentis e sem muita astúcia, o tédio constantemente tentando
me vencer, chorando por um céu de novidades, sepultando velhas
angústias, sempre tendo alguém em mente pra esquecer, e até então
a parte que me cabe na cidade é a saudade, sem mais sonhos de porvir,
à espera de nada desde a primavera passada, nada, nada mesmo por vir,
clara manhã, anos de tortas e portas na cara, ah, falsos doces lábios que
zombam do meu raro sentir, mais uma vez me preparo para partir, pois hoje
ela acordou assim, cheia de uma estúpida certeza e fez planos de ser bela até
o fim, um dia pagarás pelo teu desprezo à singeleza, ah, essa facilidade com
que esqueces, até parece que um dia não envelhece!
sábado, 6 de maio de 2017
Continua...
Andarilho, andarilho, sobre trilhos inativos,
por ladrilhos do chão da cozinha na madrugada,
caminha em todas as direções e sentidos rumo ao "nada",
como todos os corações partidos impulsionam e quase já
nem pulsam, funcionam como alforje para carregar nossas
dores acumuladas ao longo de estranhas estradas, pouco importa
quem despreza, pouco importa quem esqueceu, eu ainda acredito
na possibilidade de um olhar cruzando oceanos e anos para enfim
alcançar o meu...
sexta-feira, 5 de maio de 2017
Incomum
Dia mudo, mundo muda, dia mudo, mas meu mundo
não muda, um silêncio quase absoluto, ouço a prosa
do mar com o vento, lamento não entender, não sei,
acho que vai chover, "cinzamente" entristece o azul
do céu e os tons das cores do dia, mas preciso da calma
do som da chuva porque acho que nunca terei a "praticidade"
de algumas pessoas em renomear a solidão, reinventando o
amor a "seja como for", meu olho sente e nem lembro mais
há quanto tempo aderi ao vazio de ser assim tão diferente...
quarta-feira, 3 de maio de 2017
Aquarelas na chuva
Suspiros de um perdido,
sonhos esvaídos, conhecer,
aprender a gostar, acostumar-se
pra depois ter que esquecer, tudo
porque começou a chover e nesse
ínterim, fragmentos de mim numa
coletânea daqueles melhores sorrisos
que só você consegue ver nas gotas
d'água que escorrem no vidro da tua
janela, assim como ela hoje me fez companhia
no fundo do ônibus, reflexos de mais um fim de
semana sem, lá vem nostalgia e lá se vão os anos,
das janelas dos transportes urbanos pequenos filmes
projetados nas paisagens, nossos curtas-metragens...
segunda-feira, 1 de maio de 2017
Um forasteiro
Estranhas estradas, saí sem rumo,
tem dias que não sei o que faço no espaço,
assumo, fugi de um mundo e seus prazeres
particulares pra me isolar num asteroide,
um menino com o bolso cheio de pedras lunares
afim de atirar no negro mar suspenso, contentar-me
em ser espacial porque nunca tive posses, nem status
pra ser feito especial, sem nada nas mãos, quem, Deus
meu me olharia atentamente só pelo mísero valor do
coração? Me chamavam "louco" por querer assim tão
pouco da vida, preciso comprar minha existência com
uma boa aparência, preciso ter automóvel pra ter colo
e choro a cada regresso à esse planeta perdido, mas então
lembro que agora sou nativo das estrelas, ah, que tê-las tão
perto de mim me fazem voltar a sentir-me vivo, rico, dono
da minha própria cratera, tem dias que viver no espaço é
tão confortável e descanso com o peito manso, que não sei
porque invento de voltar à terra...
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