quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Silhuetas



Madrugada, da janela do
décimo terceiro andar de
um dos prédios mais altos
da orla a visão de uma chuva
calma lá embaixo e um único
ser à vagar sob um verdadeiro
aguaceiro; não se sabe quem,
mas deu pra perceber que a silhueta
era de um homem, um tipo meio que
idoso perdido, meio que menino de
coração partido, e assim observava
a pessoa insone do apartamento, só
conseguia enxergar lamento, imaginava
alguém que acabara de ser deixado, mas
na verdade, na verdade o ser perambulante
era um pobre ambulante vendedor de sonhos
que descobrira na noite anterior que estava
apaixonado, e agora cantarola um sambinha
de Cartola, estragando seu melhor sapato
nas poças d'água sem mais mágoas, feliz
por deixar de mendigar atenções, esmolas
sentimentais e afins, e por conseguinte não
era mais um pedinte. Por um momento parou
e se entristeceu ao deparar-se com o único ser
naquela janela ali no topo do tédio, mas voltou
à se alegrar, lá embaixo  a vista era turva, achava
que era chuva, mas era apenas um choro bom de
um renovado olhar...

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