
Pra se estar fora do alcance
da incerteza, dos maus acasos,
e tanto descaso com a singeleza
dos meus versos, peço à Deus,
e me despeço do mundo, deito,
no que imagino ser uma cama
de nuvens, céu, o mais longínquo
lugar, onde ninguém, sequer,
conseguiria me imaginar,
jazendo sobre o caos da forte
chuva da madrugada, três e
meia, sonho com um chapéu
novo, por conta do cabelo que
já rareia, que paz eu sinto,
vendo os aviões daqui, só
acordo pra morrer, envelheço
até dormir...

Saudade,
olhos cheios, peito sem,
a idade avança, e a pele
do indicador nunca
alcança a palma da tua
mão, meu bem, quando
caio ao longo dos anos,
saio da tua vista, sumo
da tua lista, e dos teus
planos, meses à décadas
de queda-livre, saudade,
olhos cheios do que nunca
tive...

Além da pele, apelos,
aqui jaz uma cidade
sem paz, mas em resposta,
corrégos de tranquilidade
que o fim do dia trás me
fazem descansar quando
a luz se apaga, e já não há
inquietações quando a calidez
da noite me afaga as pálpebras,
fico à sorrir de sua linda palidez
em minha sonolência, simplicidade
maior não existe do que a inocência,
faz sumir de mim o pecado da soberba,
me faz lembrar de ser grato por cair,
levantar e novamente sorrir, refleti no
último copo d'água, antes de dormir...