terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dormi de mau jeito!















Quero porque quero um dia
ver-te adormecer tranquila, esquecer
de como a vi naquele sonho, sentada
sobre nuvens de um pôr-do-sol, teu olhar,
um farol dando curso à solitários navegantes
sem luar, dos quais, eu, em mais uma noite
de lábios flamejantes, alma inflamada porque
não a tive, mas certo é que te vi na fuga dos
teus últimos traços gentis de ternura, quando
então paraste de me sorrir, subitamente, nem
tua imagem tinha mais, era já de manhãzinha,
e sem decoro, à essa altura acordei me acabando em choro...

sábado, 11 de agosto de 2012

Sentença














Eu não sou daqui,
não desse estado,
nem desse pijama listrado,
não sou do dia de hoje;
talvez eu pertença à
este poema intitulado
"sentença", e só exista
pra que Deus insista em
me trazer pra vida real,
e telefonemas que não recebo,
e tal, sei lá, quando menos percebo
já é o fim do dia, rabiscaram as
alegrias de mim. Quisera nunca
ter saído das entrelinhas pra me
tornar esse verso triste, uma estrofe
à menos, e ficaria implícito que aquele
olhar sincero existe, sei lá, bem que os
ventos poderiam ser amenos, e as noites
mais serenas, todos ao meu redor têm
mentido muito pra mim, inclusive eu
mesmo, mas não queria, e por isso peço
à Deus baixinho quase todo dia pra que
possa voltar à morar na segurança da minha poesia...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dor de cabeça e céu nublado










Têmpora,
temporal,
veio, foi,
"oi, àdeus",
tiveste, perdeu,
saia, cílios, seios,
uma atriz, diretriz,
direção, nau, now,
um barco à vela,
agora o mar sem ela...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Passado




















E quanto ao que queres, menino,
querias, das sobras, no mínimo,
o nada e um vazio de calçada;
foi-se a leveza do sentimento levada
pelo vento, restaria, pois, o que me feres,
um sorriso fosco, talvez, estinguiu-se
o brilho dos lábios daquele instante
paradiso, daquele fim de mês, e eis que
veio cinza, o siso no céu da tua boca sobre
meu tédio, ganhaste novas asas de borboleta,
agora aproveita e pousa em novas flores distantes
de mim, jardim desolado, passos, pessoas,
príncipes e palhaços, e quantos ainda passarão,
e haverão de deixar-me no passado...

domingo, 15 de julho de 2012

Te ver dormir
















Dorme...
vai passando a cidade, atravessa a idade
avançando os anos, e a frustração dos planos
ao longo do caminho, sozinho na imensidão
do universo, e se pareço disperso, ao meu lado
ela apenas dorme.
O vício de esperança que por dentro corrói,
a insistência de acreditar dói, pobre amigo
imaginário, vaga num passeio inocente
à procurar de lar, entre velhos dias tranquilos,
e vorazmente solitários, deveras esquecido,
o rosto muito parecido com o meu, porém
um tanto disforme, e a moça ainda dorme.
Lá fora nos observa, o céu, o sol, o dia,
concordam entre si em suas crônicas sobre
nossas melancolias, e na janela, a imagem
refletida no vidro, adormecida, preciso descer,
preciso partir, tremendo era o vazio naquele ônibus,
e tudo muda quando ela acorda, como fosse a própria
paz de espírito, olha pro lado, e me sorri, aaahhh...
quem era ela? Sei lá!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

domingo, 8 de julho de 2012

Cronista














Segundo o dito, maldito,
vagando como crianças sem
lares, fadado à meros registros
oculares, escreve sobre a flor,
mas o olfato não funciona, o fato
é que imagina o odor, sonha com
a delicadeza da pele das pétalas,
e eis a tristeza, suscetível apenas
à dor de ser castigado pelo espinho
que fere, às portas à bater, sequioso
de um dia poder sentir, ser amado
por enfim ser visto como realmente
é, a fé de insistir em não só assistir.